- Aveiro, 30 de setembro de 1809.
Aveiro, 30 de setembro de 1809.
Querida de minha amizade restrita te deseja de coração um abono de ternura nos seus lindos ombros por se mostrar. Ontem mirei o seu retrato, aquele que me presenteaste na minha volta do exílio.
Com muita tristeza fiquei por que ter levado tanto tempo sem o seu convívio e nem mais lembrava de suas maneiras alvissareiras de conduzir o dialogo.
Soube por seu intermédio, num bilhete que já dilacerei faz tempo, escrito estava que existia um desejo incontido de satisfação de providenciar a aquisição de uma moradia que se ficasse mais próximo do centro comercial. Estava a vender.
Sem que tu soubesses vieste a minha porta bater, confesso que não lhe reconheci, pois, estavas com o seu andar modificado de um modo bem diferente daquele quando desfilavas com o seu caminhar sutil por avenidas e ruelas do seu arraial tão distante e simples de viver.
Infelizmente não foi de uma boa acolhida à moradia que vos apresentei, achaste muito longe ainda do seu objetivo. O preço não lhe importou, bem sei!
Gostaste do nome que estava escrita na placa de identificação, lembra-se? Rua Monica n° 100, hoje estou a pedir perdão, foi um nome falso como fazem todos que vendem a vivenda, para afugentar os açougueiros de plantão.
Soube pelo Bonifácio de sua zanga e que custou a ser extinta, mas, como tudo nessa vida tem um começo meio e fim penso que hoje já não carregas no coração essa pequena mentira de muitas, confesso, que eu estaria por aprontar.
Mas, uma recordação deixou ao me acolher de volta do exilio e muito contente me puseste na fita. Não fui merecedor do seu afeto. Ontem eras mais chegada as ternuras, bem me lembro.
Antes de me ausentar sem querer cometi alguns deslizes que não lhe quero recordar, só vos peço o seu esquecimento. Será bom para todos.
No mais estou muito esperançoso de um novo tempo em nosso relacionamento, sei que não poderá ser como antigamente, mas, com compreensão poderemos chegar há um meio termo, como os boleros que costumávamos dançar, são dois para lá e dois para cá. Tempos bons!
Por aqui fico e despeço-me prazeroso de felicidades e receba o meu carinho e deixe estar que tudo será esclarecido e voltaremos a ver corrida de navios ao som das ondas do mar e o brilho das estrelas e se possível sem luar.
Beijo-te as mãos como uma reverencia dos meus desejos secretos,
Do sempre seu apaixonado,
Manoelito Justino
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