UMA NOITE NO MUSEU
Certa exposição no Museu de Artes Modernas recentemente deixou os críticos bastante indignados. Eis que sem nenhum aviso sobre o conteúdo e faixa etária da amostra, pessoas totalmente inocentes se deparam com uma bíblia aberta e exposta ao público em geral. E, pasmem! Uma mãe com uma criança interagia com o livro sagrado. A imagem era forte; via-se claramente a criança manipulando sem nenhum pudor as páginas douradas de uma bíblia. Algumas pessoas se sentiam enjoadas com essa performance. Só $$$* poderia avaliar as conseqüências deste ato impensado no desenvolvimento dessa criança.
No dia seguinte a notícia correu o mundo. Magistrados, membros do MP e representantes das mais diversas entidades sociais protestaram veementemente contra aquilo que foi considerado uma cena lamentável da mais baixa ordem moral contra os costumes da sociedade pós moderna. Foi divulgada uma nota de repúdio cujo título dizia: “Estes que tem transtornado o mundo chegaram também até aqui”. A notícia permeou as redes sociais e mídia em geral por um bom tempo causando comoção nacional.
Felizmente, os curadores se articularam e apresentaram uma amostra bastante ousada onde se via requintadas obras de artistas consagrados e contemporâneos com forte apelo à pedofilia, à zoofilia e em especial se encontrava também uma escultura representando o bestialismo em sua forma mais crua. Foi um sucesso de crítica. As pessoas se sentiam deslumbradas com a sensibilidade dos artistas.
Aos poucos as coisas foram se acomodando e já ninguém mais se lembrava dos fatos bizarros ocorridos no M.A.M. Outros fatos escabrosos ganhavam atenção da mídia semana após semana. Um terremoto arrasador no hemisfério norte deu sinal que as coisas haviam definitivamente entrado nos eixos novamente. Entretanto, aquele livro de capa preta, aquelas páginas sagradas, aquela mensagem tácita e franqueada continuava irradiando paz e transtornando o mundo paulatinamente.
* $$$ - símbolo da divindade adorada pela sociedade pós moderna cujos atributos seriam a onipotência e a onipresença. (N.A)
10/10/2017