Aos diferentes
Irão chamar-te de louco. És apenas diferente. Os bares lotados, os estádios e as repartições públicas te intoxicarão. Oferecer-te-ão drogas. Não as aceite.
Deixar-te-ão mais parecido com os iguais que se pareiam aos milhares. E és diferente.
Vais enlouquecer-te vez por outra porque a vida quererá enquadrar-te, rotular-te, estereotipar-te. Ela conseguirá apenas em parte, porque mesmo nas diferenças há semelhanças.
Olha-te no espelho. Não há ninguém igual a ti. Nem mais belo nem mais horrendo. Levanta voo! Agora! Tuas retinas precisam filtrar paisagens. Inspira teatro, expira poesia. Dança uma dança só tua. Cria raízes e depois as corta. Parta para um lugar desconhecido. Depois volta. Muda de ideia. Diz que não sabe. Pergunta. Ouve as infinitas respostas. Em algum momento da vida irás pintar teus cabelos, ou crivar tua pele de tatuagens e tuas extremidades de metais,cordões e penas. Vais, aos poucos, percebendo-te diferente. Os jovens perceber-te-ão jovial apesar da idade. Não te envergonhes disto. Um instrumento musical poderá escolher-te como amigo. Aceita-o sofregamente. A arte presa em ti precisa ser parida de alguma forma, por algum meio ou ferramenta; O pincel, as mãos, os pés, a voz, o sexo, o corpo todo.
Certos dias encontrar-te-ás sozinho. Aproveita a liberdade e o anonimato. Fica nu. Medita. Deixa a inspiração dormir um sono tranquilo, para depois, de madrugada acordar-te num susto, suando e chorando sem saber por quê.
Viestes ao mundo para criar novos caminhos. Não para percorrer os já existentes. Por isso acostuma-te com a solidão. Não é tua inimiga. Talvez em idade já avançada olharás para trás e verás a multidão que seguiu teus passos e se emocionou com tua trajetória ímpar. Não te envaideças. A multidão é infiel e o sucesso efêmero. Tudo é efêmero. Segue criando, inovando, perscrutando. Podes ter muitas companhias mas nunca encontrarás teu par. Por que? Por que és diferente. És artista. Casa-te com as tuas artes! Aconchega-te a elas.