Há momentos na vida:
Há momentos na vida em que somos pássaros.
Queremos voar, mas nossas asas são curtas e
não nos permitem chegar além do horizonte.
O que está sempre além do que desejamos.
Há momentos na vida em que temos longas asas,
podemos alçar extensos vôos, mas nossos limites
são determinados pelo peso das bagagens que a vida nos dá.
São malas que atendem por diversos nomes: bom senso,
juízo, medo. Há os que se livram de seu peso e conseguem
voar muito alto. Alguns atingem
destinos fantásticos, muitos conhecem o sabor do desastre.
Mas há momentos na vida em que deixamos de voar.
É quando nos tornamos
árvores, quando nos percebemos enraizados à terra,
presos no espaço e no tempo.
Não nos damos conta desta mudança, que nos tira
as asas e nos empresta galhos e ramos.
Apenas descobrimos que somos assim.
Como árvore, podemos crescer apenas para cima:
na busca do sol e da luz e
para baixo, à cata de alimentos e energia.
Os dois movimentos se completam,
um não é possível sem o outro.
Enquanto crescemos, podemos servir de pouso
para os pássaros de asas curtas
e longas, aventureiros e comedidos.
Muitas vezes emprestamos o abrigo de
nossas ramagens para a construção de alguns ninhos.
Mas quando deixamos de procurar a luz ou desistimos de
cavar em busca de energia, paramos de crescer.
Mas não há árvores assim.
As árvores perseguem seu destino, que é crescer e
se alimentar assim como há pássaros que só buscam voar.
Saber o momento do vôo ou o instante de se enraizar é a
grande sabedoria humana.
Saber viver intensamente o momento de polinizar as flores
ou o momento de deixar ao vento e à chuva que espalhem
nossas sementes, eis o destino da vida.
Se você é pássaro, voe em busca de seu sonho.
Se você se descobriu árvore, cresça o mais alto que puder
e deixe a terra cuidar de suas sementes