CÂNCER NO APÊNDICE por IGINO MARCOS
É difícil acreditar que estou com câncer, mas estou!
Aparentemente, minha saúde nunca esteve tão boa. Acho que a primeira cirurgia que fiz para tirar o apêndice me deixou com mais disposição, parece que meu intestino está funcionando muito melhor e estou mais animado para trabalhar.
Felizmente ou infelizmente, junto com meu apêndice arrancaram de mim um tumor maligno chamado adenocarcinoma na fase T3.
Foi tudo muito rápido, primeiro a dor de barriga, a informação de que eu faria uma cirurgia para tirar o apêndice, o sucesso da cirurgia, o comunicado feito pelo médico de que tinha um tumor no meu apêndice (fato que não dei nem moral, porque o Dr. João Boco – melhor cirurgião oncológico da cidade de Uberlândia MG - disse que tinha 90% de chance de ser benigno), conseguinte, a notícia de que o tumor era maligno e a necessidade de uma nova cirurgia e quimioterapia.
Como sempre sou meio “Poliana”, fui recebendo as informações com otimismo: tinha tumor maligno (ainda bem que já tirou), nova cirurgia (tenho medo, mas é para aumentar as chances de cura para 70%) e a quimioterapia (vai ser leve e vai me curar). Tudo isto em menos de 20 dias. Para ajudar no otimismo procurei psicólogo, e me aproximei ainda mais dos meus filhos, da minha companheira e dos amigos.
Acontece que otimismo é que nem fé, nem todo dia está do mesmo jeito. Este papo de cirurgia e dos riscos que envolvem o procedimento, a quimioterapia e as reações no corpo e até mesmo a cara que os amigos e conhecidos fazem quando recebem a notícia do meu “probleminha” tendem a jogar a gente para a realidade de que: “câncer não é brincadeira não.”
Estes dias, por exemplo, fiz um exame muito chato: “colonoscopia”. Para fazer esse exame temos que passar o dia anterior inteiro apenas alimentando-nos com líquidos. Além disso, temos que tomar purgante e mais meio litro de um remédio manipulado quimicamente. No dia do exame você está fraco, estressado e com um pouco de dor de cabeça. Sem falar, na preocupação com o desconforto do exame.
Apesar de tudo isso, lembro que foi um dia ótimo. O médico disse que provavelmente não teria mais nenhum tumor no intestino e tive o apoio durante o dia da minha companheira Jamile, da minha filha Julie, do meu filho Marcos Rafael e do meu amigo Erli Schwartz, além da solidariedade de vários e várias amigas que ficaram sabendo.
Depois destas etapas pareço ter ganhado mais força para vencer o câncer. Com certeza o amor que tenho por meus filhos e o que eles têm por mim, o companheirismo da Jamile, e com a quantidade de amigos que tenho ficará sempre mais fácil sobreviver e depois viver com qualidade.
Depois da cirurgia:
Agora são 08:50 do dia 24/02/2018, faz uma semana que fiz a segunda cirurgia para tirar um terço do intestino grosso. Segundo os médicos é para tirar uns tais de linfonodos (INGUAS), onde, provavelmente, poderiam terem sidos contaminados por meio de células ou até moléculas tumorais.
Essa cirurgia, diferente da outra, foi um pouco mais complexa. Demorou mais de três horas e tive que ficar 04 (quatro) dias internado. Contando com o dia pré-operatório foram 05 (cinco) dias bem difíceis. Entre outas coisas, fiquei mais de 30 horas sem beber água, vomitei, coloquei sonda, tive dor para urinar depois de tirar a sonda, dificuldade para dormir e comer mas enfim, passei mais uma etapa!
Desta experiência também sai mais forte e preparado para enfrentar minha doença. Inspirado num texto da minha irmã Lilian, que falou do sentido de ser um “vencedor”, me senti muito representado. Porque, se olhar minha vida do lado financeiro e das coisas que acumulei é muito pouco: um apartamento popular financiado, um escritório da periferia construído numa posse ainda em disputa e um carro popular, ou seja, para um advogado experiente como eu, com 45 (quarenta e cinco anos), sou um fracasso financeiramente falando. Por outro lado, o que adiantaria ser um milionário hoje, se não tivesse uma filha como a Julie que está a minha disposição desde o dia da descoberta da doença, do Marcos Rafael, que ainda adolescente tem sido um grande companheiro, da Jamile e da Chiara que têm mais que todo mundo, conhecido meus medos e fraquezas.
E se eu não tivesse amigos como o Erli, Tião, Ítalo e o compadre Guilherme que dormiram comigo no hospital, da minha irmã Lilian, que veio de São Paulo para ajudar nas questões pessoais e jurídicas, do Frei Rodrigo que me chamou pra uma missa na véspera da cirurgia e de dezenas (sem exagero) de amigos e amigas que de um modo ou de outro me ajudaram materialmente e emocionalmente no enfrentamento a doença, e outras centenas (sem exagero) de amigos, amigas e parentes que me fizeram orações, rezas e mandaram energias positivas. Cara... tem como ser mais vencedor do que isso? Conforto é pouco, senti que sou um cara privilegiado de verdade.
Pós cirurgia, ainda no hospital, não tive tempo de descansar a cabeça, porque a UNIMED, empresa a qual estou pagando há quase 15 (quinze) anos com muita dificuldade, estava recusando-se dar continuidade no meu plano só porque eu estou com câncer. Pode um trem desse?
Hoje, já estou com o contrato de renovação aqui na minha mesa, mas para isso, minha filha e minha irmã percorreram um longo caminho. Foram várias vezes na UNIMED UBERLÂNDIA, foram no PROCON e ainda contataram a ANS (Agência Nacional de Saúde), mesmo assim nada de a UNIMED ceder. A UNIMED é uma empresa privada, quer lucrar... Por que cumpririam a lei me dando assistência médica se eu estou com câncer, e, daria uma grande despesa a empresa? A minha sorte é que tenho muito contato na imprensa (amigos e amigas), por isso, a mídia começou ligar para a UNIMED para saber por quê? Por quê? Por quê? Por que um plano de saúde recusa-se a dar assistência privada a um conveniado que está em dia? Por que não renovar um contrato que tem quase 15 (quinze) anos... Ai, eles cederam e vão cumprir a lei.
Apesar de ter tido o caso com a Unimed resolvido, me revolto em pensar nas pessoas que passam situações como esta e não tem conhecimento, apoio jurídico e a imprensa para resolver tal situação. Penso em pessoas que tiveram suas cirurgias e tratamentos negados exatamente quando precisavam.
É assim o mercado: lucro, lucro e lucro. Exemplos como o meu servem para desmentir os neoliberais, que acreditam que o mercado pode regular saúde, educação, previdência, assistência social etc. O mercado por óbvio não resolverá nada que não de lucro. Com os recursos da saúde congelados por 20 (vinte anos) e os convênios usando estratégias para se livrar dos doentes, o caos só tende a aumentar. Enfim, temos que lutar demais para ter o mínimo de respeito ao menos como consumidores.
Bem... então por hora é isso. Estou publicando este pedaço de história no facebook para que meus amigos(as), parentes, inimigos(as) e conhecidos(as) saibam que estou com câncer, mas que é um “cancerzinho chulé”, tive um tumor de apêndice, apenas 1 (um) em 500.000 (quinhentos mil) habitantes, ou seja, talvez só eu tenha tido esta doença deste jeito em Uberlândia. O que comprova, sou um cara muito especial! (rs).
Podem pesquisar no google, a literatura disponível apontam que 70% (das pessoas que fizeram o que eu fiz: duas cirurgias, que fizeram o que eu vou fazer: quimioterapia) conseguem a cura. Por tudo isto, continuo otimista e ainda vou fazer com mais alegria e entusiasmo o que já vinha fazendo, que é defender sem-tetos e sem-terras e fortalecer a luta pela democracia!
Por fim, sei que deixei de citar muita gente boa que me ajudou muito. Perdão!