Somos como um Rio
Somos como um Rio em curso ao longo da nossa vida, já diziam os antigos filósofos. Onde um Rio passa, deixa sua umidade e as partículas de húmus que, suspensas, correm em suas águas. Essas partículas alimentam a vida que existe em suas águas e também nas suas margens, onde são finamente depositadas. Se o Rio passa por uma floresta impregna-se das substâncias que exalam da mesma, se ele corre por terrenos argilosos, adquire as cores e a textura dos solos que formam a sua bacia e assim sucessivamente, ora absorvendo, ora desprendendo o que arrasta consigo ao longo do espaço e do tempo. Vez por outra as chuvas e as tempestades avolumam suas águas arrastando mais e mais substratos que vão se depositando ao longo da sua jornada. Seu destino é certo e não importa os obstáculos a serem transpostos, cresce sempre e encontra o todo, fundindo-se nas águas do grande Oceano.
Nós também somos bem parecidos, por onde passamos deixamos alguma semente daquilo que trazemos conosco, nos alimentamos dos momentos vividos e levamos outras partículas que adquirimos ao percorrer essa jornada. De acordo com o leito por onde corre nossa vida, vamos nos moldando e estruturando nossa consciência. Assim, um novo ser vem brotando e crescendo dentro de nós, de acordo com o nosso plantio e as nossas colheitas. Nosso destino, nesse grande leito da vida, é um dia encontrar o grande arquiteto do Universo, Aquele que nos deu a vida, a Fonte de toda a vida. Nesse processo é preciso desprender e limpar as impurezas que trazemos conosco e absorver os ensinamentos na nossa vida, adquirindo a luz na consciência e desenvolvendo o amor no coração.
A vida moderna está engessando grande parte dos rios da nossa vida, tornando-os cada vez mais secos, poluídos, limitados, estagnados e sem vida própria. A pressa em nosso viver faz dele uma corredeira com destino incerto e as turbulências são cada vez maiores e mais calamitosas. O resultado está visível em todos os cantos do mundo, boa parte do povo deprimido, doente e confuso. As boas tradições caindo por terra, os valores sendo invertidos, os conflitos cada dia mais presentes e tantas atrocidades alcançando níveis não imagináveis. O ser humano está distanciando de si mesmo, da vida, da natureza e, por consequência, da sua própria natureza. Caso não haja uma correção de rumo a tendência é a autodestruição e renovação da própria sociedade. Necessitamos pois, de pessoas mais espiritualizadas, que entendam que o plantio feito é para o mal ou o bem de si próprio, tudo que falamos ou fazemos volta um dia para nós mesmos, essa é a grande lei da natureza.
Podemos viver como a grande maioria, sem nenhuma consequência dos atos praticados e sem preocupar com as escolhas que se faz diariamente no correr da vida. Mas, também podemos começar a nos conscientizar da nossa missão nesta vida aqui no Planeta, preparar um mundo melhor para as futuras gerações. Plantar os bons exemplos por onde passarmos e colher os bons frutos que esta vida pode nos ofertar, adquirindo assim, a sabedoria em viver bem essa vida que nos foi dada. Quando voltarmos aqui algum dia, como as águas do Rio voltam através das chuvas, poderemos estar em melhores condições e encontrar uma sociedade também melhorada.
Somos a soma de todos que vivem em nós e mais tudo aquilo que pensamos, amamos e queremos. Por isso devemos cativar as pessoas, querer bem os amigos, a família e as coisas boas da vida. Principalmente, desejar o bem ao nosso próximo, desejando aos outros, tudo aquilo que queremos para nós. Essa é a grande ética da vida e do amor, ser solidário nas dificuldades e nas alegrias, alegrarmos com a vitória do nosso próximo e fazer o possível para auxiliar uns aos outros, pois assim, estaremos auxiliando nossa própria caminhada espiritual e melhorando nosso merecimento perante ao Superior.
Se afastarmos de tudo isso corremos o risco de nos transformar em um ser estranho, sem conexão com o mundo espiritual e, com o passar do tempo, não conseguiremos mais nos reconhecer. O vazio e a depressão é inevitável em algum momento da vida e, o que pode nos preencher, servindo de ancora para não afundarmos nos pântanos lodosos, é o amor plantado e recebido. Essa é a melhor substancia que podemos deixar por onde passamos e absorver em nosso tempo de caminhada, assim como o rio faz ao passar pela sua jornada do continente até o Mar. Esse é o grande destino de toda humanidade.
Nossa vida é feita de fases, passagens, baixos e altos, tristezas e alegrias, quedas e erguimento, o acordar constante. No final de tudo, a balança penderá para aquele lado que mais doamos e mais nos alimentamos na vida. Sem a presença do amor não há razão alguma para viver. Portanto, precisamos iniciar hoje, não deixar para amanhã para plantarmos pequenos gestos, boas sementes, lindas flores e pequenas esperanças de amor. O amor exige um coração mais limpo e mais livre para receber essa grande força universal.
Devemos confiar em nosso destino e naquilo que Deus nos reservou, não temer a vida, não desanimar com as dificuldades e não duvidar que somos capazes. Fomos dotados de todos os meios necessários para vencer e temos que acreditar nisso sempre. Mesmo diante da dor e do sofrimento, devemos avançar no desenvolvimento do nosso Ser até chegarmos ao Grande Mar, ao Grande Senhor da Vida.
Florianópolis, 04/11/2013