UM PEDIDO PARA O ANO NOVO

“O Senhor Deus me deu a língua dos instruídos

para que eu saiba sustentar com uma palavra o que está cansado;

ele desperta-me todas as manhãs;

desperta-me o ouvido para que eu ouça como discípulo”

(Isaías 50.4).

Isaías foi um profeta de Israel que viveu e atuou no período que compreende os anos 765 e 681 a.C.. Segundo os relatos de sua profecia, teve destaque nos reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias. Ele foi contemporâneo à destruição de Samaria pela Assíria e à resistência de Jerusalém ao cerco das tropas de Senaqueribe que sitiou a cidade com um exército de 185 mil assírios em 701 a.C.

O nome Isaías significa "Iahveh ajuda" ou "Iahveh é auxílio". Ele exerceu o seu ministério no reino de Judá, tendo se casado com uma mulher conhecida como a profetisa que foi mãe de dois filhos: Sear-Jasube e Maer-Salal-Hás-Baz. No capítulo 6 de sua profecia, encontramos a visão do trono de Deus e o seu chamado para o ministério, quando ele se apresenta de forma submissa: “Eis-me aqui, envia-me a mim!” (Is 6.8).

É no final de sua profecia que Isaías faz a confissão em epígrafe, que nos apresenta como o discipulado era importante já no Antigo Testamento. Vamos tomar a confissão de Isaías e fazer dela nossa “Oração de Ano Novo”.

Há quatro aspectos fundamentais da confissão de Isaías que quero destacar neste momento.

*****1ª) A necessidade de termos bocas benditas.

Há muita boca maldita em nossos dias, afastando pessoas, magoando seres, provocando discórdia e desavenças. O mundo está necessitado de palavras de paz. O povo de Deus precisa ser a boca de Deus para abençoar o mundo.

Isaías sabia-se contemplado com “a língua dos instruídos”. Essa língua era uma língua erudita. Uma capacidade de saber falar, falar com conhecimento de causa. Uma fala pura, sem mentiras, sem intrigas, sem intenção de ferir ou menosprezar, mas, tão somente, com o fito de animar, encorajar, edificar, levantar pessoas de seu estado de derrota, apatia, comodismo, para levá-las à ver a vida com novo olhar, nova visão.

Isaías tem consciência de que tinha essa capacidade. Foi essa capacidade de comunicação com qualidade que o tornou um grande profeta. Mas, Isaías sabia que quem lhe dera isso fora o próprio Deus: “O Senhor Deus me deu a língua dos instruídos”.

Vamos fazer dessa realidade na vida de Isaías a nossa “Oração de Ano Novo”: pedir a Deus que nos dê uma capacidade de comunicação eficaz (“a língua dos instruídos”) para que em 2017 possamos alcançar vidas para Jesus Cristo, vivendo o discipulado consequente.

*****2ª) A capacitação para abençoar outras vidas.

Saber falar é um dom. A arte de bem comunicar, vem do próprio Deus que “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). A humanização do Cristo visa à perfeita comunicação da divindade com as criaturas. Além disso, o Apóstolo Paulo deixa bem claro que é Deus mesmo quem distribui os dons, pelo seu Espírito, e o faz para o que for útil para a sua Igreja (1Co 12.6,7,11).

Isaías não negava que tinha a “língua dos instruídos”, mas, também, tinha plena consciência, que recebera este dom de Deus para saber “sustentar com uma palavra o que está cansado”. A nossa “Oração de Ano Novo” não deve ser fruto do nosso egoísmo, de uma vontade apenas de crescer e aparecer, mas, do desejo altruísta de ser bênção na vida de outras pessoas.

Há muita gente cansada neste mundo. Há muita gente cansada de viver, até. Jesus tinha consciência disto e fez um convite aos “cansados e oprimidos” (Mt 11.28-30). Vamos pedir a Deus que nos dê este dom da comunicação para que venhamos a proferir palavras que levantem estes sobrecarregados e aflitos do mundo e lhes indiquem a palavra de fé que produz salvação “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17).

*****3ª) O reconhecimento de que vivemos pela permissão de Deus.

O simples fato de existirmos é um milagre! Chegamos a este mundo porque vencemos a batalha intrauterina pela fecundação. Ultrapassamos a linha de chegada da existência e vimos a luz. Mais que isto: tivemos um encontro com Jesus Cristo e vimos a Luz.

Isaías sabe do valor da vida e sabe, também, da sua procedência: “Ele desperta-me todas as manhãs”. Ninguém vive a vida toda de uma vez só. Vivemos o dia a dia. Os apressados têm indigestão. Os que esperam no Senhor renovam-se e voam como as águias (Is 40.31). E é Deus quem está conosco ali, quando acordamos, na manhã seguinte do existir...

É como se Isaías se perguntasse: Para que viver? Será que estou cumprindo o meu propósito nesta Terra? Será que estou praticando os dons que recebi do Senhor? Tem muito crente com vida inútil! Sabem fazer algo, têm capacidade e disponibilidade para fazer, mas não fazem.

O apóstolo Paulo também sabia disso. Ele declarou: “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração” (At 17.28). Não há vida sem Deus. E não há vida que exista sem a permissão divina.

Isaías sabe que Deus lhe capacitou, que ele tem dons e talentos e que Deus permite que ele viva e, por isso, precisa estar continuamente consagrado ao Senhor para ser útil às pessoas aflitas deste mundo que precisam de gestos de amor de sua parte.

*****4ª) O aprendizado para o discipulado verdadeiro.

Por fim, quero destacar este quarto e último aspecto fundamental da confissão de Isaías que é central para nosso novo tempo como Igreja de Jesus Cristo: todos nós precisamos aprender a viver o discipulado verdadeiro.

O profeta está cônscio de que Deus o despertava a cada manhã para viver a vida de um verdadeiro discípulo. Para tanto, Deus trabalhava diariamente na sua vontade, nas suas emoções, nos seus desejos. Ele sabia que se Deus não fosse sua inspiração, sua motivação, a vida que vivia seria vazia e estéril.

Ainda Paulo, ao escrever a Timóteo, deixou-nos a divisa universal para o discipulado cristão: “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2Tm 2.2). Todo cristão precisa viver a vida do verdadeiro discípulo.

Isaías, nosso profeta em destaque, sabia disso e, desde cedo aceitara o desafio de Deus para sua vida, procurando ser um discípulo verdadeiro. É interessante notar que na primeira metade de sua profecia, Isaías, em meio às circunstâncias das intrigas palacianas, transmite mensagens de punição e juízo para os pecados de Israel, Judá e das nações vizinhas, tratando de alguns eventos ocorridos durante o reinado de Ezequias.

Mas, já para o final de sua profecia, na outra metade do livro (do capítulo 40 ao final) vamos encontrar palavras de perdão, conforto e esperança. Vamos encontrar um profeta que se torna aquele que mais fala acerca do Messias que há de vir. Isaías tinha alcançado a “língua dos instruídos” que sustenta com palavras tranquilizadoras os que estão cansados.

Como isso se deu? Deus o convencia todo dia a ter ouvidos atentos, ouvidos interessados, ouvidos de discípulo. Se a sociedade consagrou a expressão “ouvidos de mercador” para se referir àqueles que fingem que não ouvem, que fazem-se de desentendidos, nós, os cristãos, precisamos consagrar em nosso Idioma a expressão isaiense “ouvidos de discípulo”.

O que significa esta expressão, “ouvidos de discípulo”? Sabemos que o discípulo é um aprendiz, um aluno. Quem chega a ser discípulo é porque está ávido para conhecer. E, portanto, disposto a estudar. Todo discípulo é um estudioso. Então, o discípulo, compenetrado de sua missão, é aquele aluno receptivo aos ensinamentos.

Isaías sabe que Deus o despertava a cada manhã não somente para viver, mas, para viver uma vida útil: a vida do discípulo que aprende porque está comprometido com seu Deus. Seus ouvidos estão abertos para ouvir a voz de Deus falar ao seu coração e colocar em prática, à cada manhã, os ensinamentos divinos em sua vida.

*****Conclusão

Quero encerrar este texto lançando o desafio desta “Oração de Ano Novo”: Dá-me, ó Deus, sabedoria nas minhas falas, de modo que as palavras que saíam da minha boca, sejam palavras de bênção para todo aquele que comigo se relacionar. Quero ser usado por ti para tranquilizar o aflito, levantar o abatido, resgatar o perdido, libertar o oprimido, infundir esperança no cético. Ao que está cansado, que eu leve o descanso da tua presença. Obrigado por me despertar a cada manhã. E que a vida que me dás, seja tão somente para glorificação de seu filho Jesus Cristo. Dá-me a condição de ser um discípulo verdadeiro, que aprenda como bom aluno, dos teus sábios conselhos, e saiba transmitir aos outros a Palavra de Fé. Em nome de Jesus, amém!

PR. JOSUÉ EBENÉZER,

Seu pastor e amigo