Espírito carioca
Estou mais nervosa, ansiosa, pilhada e emocionada com essa abertura dos jogos do que com o Brasil entrando em final de Copa do Mundo.
Depois do cárcere emocional enquanto cidadã anfitriã dessas Olimpíadas, quero em trinta dias respirar fundo o ar que faz falta há sete anos e gritar que valeu a aventura, o sacrifício, a vista grossa, travar os dentes e aguentar.
Gostaria que enfim a consciência do que falta pra errar menos e acertar mais nos impulsione para o bem. Para a honestidade, para a generosidade horizontal. Na vertical uma nação inteira não cresce. Erige torres para poucos, mas um dia desmoronam porque reinar do alto sobre a miséria é fracassar.
270 milhoes é muito dinheiro para duas festas nas pontas das Olimpíadas. Fora o que transbordou no meio e vazou pelo ralo que vai direto aos bolsos bandidos.
Se ao final o saldo não apenas parecer, mas for positivo, a gente atocha o cerco no lava-jato e vai lavando a sujeira até ser bom pra todo mundo que paga com o próprio suor, a colocação de bandidos no pódio. Parece tudo misturado aqui. E é. O mundo tem estado assim.
Enfim, que a luz não falte, que o trânsito flua, as agendas se cumpram, torcidas torçam sem matança, terroristas se convertam pelo batismo na caipirinha, que os perdedores também se contentem por serem olímpicos e que a festa seja leve, alegre e digna de orgulho.
Estamos cansados de complexos inferiores.
Meu coração tá batendo. Não sei bem se de medo ou de júbilo.