Lutando Contra a Correnteza (O Fluir da Vida)
A força que faz saltar as palavras que escrevo não é aquela do desejo de ser lida, de ser compreendida, ser interpretada, aceita ou utilizada por quem quer que seja. Mesmo que elas não sejam lidas ou tenham qualquer utilidade, continuam fluindo como um rio seguindo seu curso. Mas, se acaso encontrarem alguém ávido de novas notícias, cansado do cotidiano da vida ou simplesmente disposto a colher sua mensagem, pode se transformar em seiva úmida de esperança e correr em outros leitos de rios inexplorados.
Neste caso, saibam que do lado de cá, também existe alguém que está lutando para vencer a correnteza da vida que arrasta o mundo dos homens. Essa correnteza que corre cada dia mais rápido e ninguém sabe onde vai dar, que encontra-se em um estágio cada dia mais complexo dentro da história da humanidade, nada fácil, no curso que está seguindo.
Imagino não ser preciso detalhar todas as coisas que estão acontecendo em nosso mundo, para saberem do que se trata.
• Mas, posso citar a situação dos países que concorrem uns contra os outros e pouco auxiliam-se mutuamente. Ao contrário, se armam cada dia mais, sempre colocando os seus interesses na frente de tudo e de todos e, assim, a paz encontra-se ameaçada no meio dos homens;
• A situação das cidades que continuam suas rotinas sem se dar conta dos seus destinos. Muito menos, do destino dos seus cidadãos e principalmente daqueles que possuem poucas condições de viver uma vida digna e das nossas crianças abandonadas à própria sorte;
• As religiões que precisam de gente mais acordada e mais desperta no amor divino, para centrar o Norte das suas orientações e manter o bem, bem vivo no peito dos seus discípulos, dando bons exemplos, principalmente;
• Os lares com seus pequenos problemas, desarmonias e afazeres que acabam por tornar nossas ações automáticas, nossos dias uma rotina, caso não prestemos atenção naquilo que renova, que nasce e renasce todos os dias, que se modifica a cada instante;
• E tantas outras situações, as mais diversas possíveis na vida de um ser humano e em nosso próprio planeta ameaçado pela ação dos homens cada vez mais ávidos de ambições e tão pobre dos sentimentos que os enobrecem.
Assim, a vida transcorre dentro das nossas veias, que precisa do oxigênio para renovar nossas células, assim como precisamos do amor para renovar nossas ideias e pensamentos, nos aproximando uns dos outros. Isso exige de nós um foco naquilo que realmente é importante de ser vivido.
Sempre que nos preocupamos somente com nossas dificuldades, nossos pequenos afazeres, nossas limitações de tempo e recursos, estamos sendo mesquinhos e deixando de aproveitar também o nosso tempo com planos maiores, mais essenciais a vida, ao embelezamento da vida e ao crescimento da consciência da humanidade.
Mas o que podemos fazer se a correnteza nos arrasta e mesmo que não queiramos somos conduzidos pelo nosso destino a lugares que nem mesmo sonhamos em chegar? Qual a solução para que possamos resistir ao consumismo, ao modismo e a tudo que aliena o homem, sem que ele veja realmente o rumo que está seguindo? Como fazer para transformar a vida moderna, cada vez mais fria, racional, capitalista, individualista e limitada? Quando os países e as indústrias bélicas irão parar de fazer armas? Quando as indústrias de alimentos e da área de saúde deixarão de se preocupar com seus lucros e vão se preocupar com a saúde do povo? Onde essa correria vai dar? Ai meu Deus! quantas perguntas!
Ou será que é o povo que precisa de conscientizar-se da necessidade de fraternidade, de felicidade e de saúde e parar de fazer as guerras. Que precisamos de amar incondicionalmente e não comprar mais os produtos cheios de veneno, pobres em nutrientes, desmineralizados e intoxicados com um montão de química que ninguém sabe ao certo como isso tudo prejudica os viventes.
Nossa educação serve para a uniformização do ser, máquina de moer carne como diz Ruben Alves, desestruturadora de culturas milenares, médicos para o comércio, engenheiros para a indústria faminta em lucros, todos para a modernização impiedosa, consumista, fria e mecanicista. Assim os hospitais se enchem, as prisões também, enquanto nas ruas estão soltos aqueles que conspiram contra a própria vida. A violência aumenta, o meio ambiente adoece, enquanto a cultura moderna, urbana, cria e recria a pobreza. A pobreza de pensamentos mais altos, positivos, valores mais nobres e a pobreza física. Perdemos a sabedoria que era passada de pais para filhos, vivemos a era do conhecimento, da tecnologia e estamos nos afundando na era da informação. Os valores reais sendo invertidos, o certo no lugar do errado e o errado no lugar do certo.
Viver e só viver, como um ribeirão?
Ou mudar cursos, fazer correnteza?
Lutar contra a Morte. Ficar, permanecer, dar exemplos!
Não sucumbir aos atropelos da vida.
Amar, amar, vencer.
Se libertar de todo mal.
Se conduzir à Glória eterna, à grande realidade da vida: o Espírito.
A morte não se resume no fim do nosso corpo material, esse pequeno e simples ato é apenas uma muda, de mudar, uma nova viagem.
O alimento do espírito capaz de conduzi-lo à Glória eterna é o bem que se fez, o conhecimento espiritual que adquiriu, o amor vivenciado. Esta é a grande síntese da vida.
Para isso, é preciso se libertar de todo mal, sair do mundo da ilusão, vencer a vaidade, quebrar o orgulho tolo.
Eu vivo ou simplesmente existo?
Ao amanhecer vi um forte brilho que ascendeu em mim uma grande esperança. É certo que o Amor prevalecerá acima de toda violência e de todas as incompreenções. Isso denpenderá de cada um de nós que lutamos por isso e plantamos incansavelmente dentro e fora do nosso coração essa grande seara. Mesmo que ainda seja deserto, uma flor brotará e as gotas de sereno hão de molhar sua face, como lágrimas de amor. Seu perfume aproximará aqueles que lutam por viver além de simplesmente existir.
Florianópolis, 16/02/2016, Lua Crescente