EIS MAIS UM ANO NOVO
Eis o ano novo, meus caros, que tanto pedimos! E agora? O que fazer com ele? Ou talvez, quem sabe, a pergunta poderia ser: o que ele fará de nós ou o que ele fará conosco? Talvez esta última pergunta soe estranha, mas é exatamente assim. Não há questionar em que se não usamos o tempo que nos é dado, certamente ele usar-nos-á.
Sempre me questiono sobre o nosso hábito de comemorar a chegada de um ano novo. Tal questionamento meu dá-se pelo fato de que acredito que deveríamos comemorar o ano que passou, pois este sim, vivemos, bebemos, comemos e regalamos, ou seja, foi presente certo; já o ano novo ainda é incerto, apenas uma promessa de um presente, um vislumbre de algo, cabendo-nos apenas traçar metas, planos e estratégias a fim de alcançar nossos sonhos, nossos presentes. E isso é exatamente assim dado a efemeridade humana, ao cicio da vida.
Mas deixemos nós as minhas lucubrações quanto ao que se deve comemorar, se o ano que passou ou se o ano novo e passemos a lucubração sobre usar o tempo ou permitir-se ser usado por ele.
Adentrar a um ano novo é como lançar-se ao mar. Refiro-me lançar-se ao mar desde sua margem, ou seja, ir caminhando pela areia até tocar os pés na borda de sua água e continuar caminhando, caminhando, caminhando até que fique impossível continuar a caminhada e então começar a nadar.
Diante de tal cena acima descrita, é fácil de se imaginar uma praia onde inúmeras pessoas a fim de tomar banho entram na água. Nesta situação podemos ver algumas pessoas apenas na beira com medo das ondas; outras conseguem ir um pouco mais longe, mas mesmo assim estagnam no momento em que percebem que não mais poderão tocar o chão com os pés sem que fiquem completamente submerso; há ainda outro grupo de pessoas que sai do estágio do caminhar e evoluem para o estágio do nadar.
Os que ficam na beira com medo das ondas são aquelas pessoas que todo início de um ano novo fazem planos, mas que somente os levam a sério até no máximo dois ou três meses, e depois ficam olhando para ondas da vida, ondas da abnegação, ondas da dedicação, ondas do esforço próprio e pusilanimemente se acovardam e param em um estado de letargia, despertando-se somente na virada do próximo ano novo.
Os que conseguem caminhar um pouco mais para dentro do mar e estagnam quando percebem que não poderão caminhar, pois serão submersos pelas águas são aquelas pessoas que executam seus planos com entusiasmo e dedicação e que não temem as ondas que se quebram à beira, ou seja, não temem as dificuldades, as abnegações e alvedrios. Esse grupo caminha até uma certa distância, seis, sete ou oito meses, porém temem quando sentem que serão submersos e não acreditam nas suas capacidades de nadar, por conseguinte não desfrutam dos resultados finais de seus sonhos.
Já o último grupo de pessoas é aquele em que projeta seus planos e executa com afinco. Começam caminhando lentamente passam pelas ondas que se quebram na beira, caminham até não mais conseguirem tocar o fundo com seus pés e em seguida nadam em direção aos frutos que seus sonhos renderam-lhes. Esse grupo mantém-se firme pelos doze meses do ano.
Faço voto de que você, meu caro amigo, esteja, juntamente comigo, no último grupo. Que todos os nossos planos sejam alcançados e que não desistamos deles, mesmo que as ondas se agigantem diante de nós.