A FELICIDADE QUE O DINHEIRO PODERIA TRAZER

A felicidade que se pode ter com ou sem dinheiro. Deus quer nos dar sem dinheiro a felicidade que pensamos que só com dinheiro poderíamos ter.

Alguns são os ditados sobre o dinheiro e a felicidade. Um dos mais antigos diz que “o dinheiro não traz felicidade”. Mas, contrariando o ditado, os pobres diziam que somente os endinheirados dizem isso; parecendo que o fazem para manter os pobres conformados com a pobreza. Todavia, pensando bem, se os endinheirados dizem que “dinheiro não traz felicidade”, pode ser que têm razão, pois se, sendo endinheirados, concluem isso, devem ter conhecimento de causa.

Com o tempo, porém, não endinheirados passaram a também defender que “dinheiro não traz felicidade”. E, em vez de ficarem esperando ter dinheiro para ser felizes, passaram a procurar a felicidade independentemente do quanto tivessem de dinheiro para bem de ter alguma felicidade na vida. Daí, sem mais o argumento de que somente endinheirados defendem que “dinheiro não traz felicidade”, nos últimos tempos adaptou-se o velho ditado dizendo que “o dinheiro não traz felicidade, mas ajuda”.

Afinal: dinheiro traz felicidade, ou ajuda a trazer?

O que se consegue com dinheiro? Com bastante dinheiro se é feliz, ou se sente seguro e poderoso e isso produz satisfação e felicidade? Para que serve o dinheiro? Para ficar no bolso nos fazendo sentir seguros, ou para adquirirmos coisas para satisfação? O que precisamos - sentir-nos seguros, ter coisas ou satisfação? A satisfação que sentimos nos dá prazer ou produz sensação de segurança? Precisamos de satisfação e de segurança, ou a satisfação nos traz segurança, ou vice e versa?

No fundo, queremos satisfação - poder adquirir o que imaginamos que nos dará prazer. Mas, muito mais que simples satisfação, nosso subconsciente quer a segurança do futuro garantido, a certeza de que sempre poderemos ter tudo o que nos dá satisfação. De nada adianta ter bastante para gastar com a satisfação hoje, tendo a certeza de que amanhã não se terá nada.

Tendo bastante dinheiro e muitos bens, pensamos que poderemos ter quanta satisfação desejarmos e que nosso futuro de satisfação estará garantido. Logo, com vista na satisfação presente e garantia de satisfação futura, nos lançamos na conquista de bens a todo custo. Sofremos para adquiri-los e, quando já os temos, vemos quão pesado é conservá-los. Mas, embora com muitos sacrifícios, grande ansiedade e medo de perder tudo, mantemos nossa aparente segurança e vamos vivendo confiantes de que a ruína jamais nos alcançará. E, tendo bastante, e seguros de que conseguiremos manter o padrão, passamos a confiar nos bens e dinheiro que acumulamos e iremos adquirir, confiamos então no bom emprego, na fidelidade do sistema bancário, no otimismo da bolsa de valores, no crescimento das empresas, no emprego público, nos governantes, etc.,; confiamos, na verdade, em nós mesmos e em pessoas que sequer conhecemos. Não é por pouco que grande parte dos empresários e investidores vivem ansiosos e preocupados, o que não produz segurança, satisfação e felicidade.

Mas, um bom almoço em família não requer grandes investimentos, uma boa pescaria ou uma tarde de piquenique não custa quase nada. Fazem-se muito bons passeios a pé, de carro, de moto ou de ônibus e um bom papo na varanda é maravilhoso e não custa nada. Passar uma tarde com pessoas que se ama, correndo, chupando cana, soltando pandorga e escorregando em canoa de coqueiro é de tirar o fôlego tanto quanto uma montanha russa. Até nas praças e lugares da própria cidade em que se mora se pode desfrutar de lindas paisagens e lugares aconchegantes. Ajudar pessoas nos dá a certeza de que podemos muito mais do que imaginamos, nos enchendo de satisfação e felicidade. E tudo isso não requer quase nada de bens e dinheiro, somente tempo do qual não dispomos se vivemos correndo atrás de riquezas. Logo, nossa busca por garantias e segurança é o que mais nos acarreta insegurança.

Como temos visto, até empresas sólidas e Estados falem e atrasam pagamentos de salários, obras, serviços essenciais, etc., e deixam de repassar os recursos devidos e necessários. Logo, em que confiamos? Em nossa habilidade para ganhar dinheiro? Mas, até que ponto ela nos trará mesmo o dinheiro que precisamos na quantidade que desejamos se essa habilidade depende do mercado e de forças além das nossas?

Por outro lado, precisamos sim de dinheiro para viver, mas para vivermos não precisamos de tanto dinheiro, pois a satisfação que se tem em uma casa ampla se pode ter em uma pequena casa ou até numa choupana. E uma comida bem cara nem sempre é tão saborosa quanto uma comida simples, comida em paz e com alegria.

O que resta sobre o ter muito dinheiro e riquezas é que, se pensamos que a abastança nos trará felicidade por nos dar poder, satisfação e garantia, depositamos a esperança e confiança no dinheiro e riquezas, coisas efêmeras e passageiras (que hoje se tem e a amanhã não se tem mais, ou que hoje têm determinado valor e amanhã já tem outro). E o que de fato conseguimos é atrair para nós a incumbência de carregar uma carga muito pesada e difícil de administrar, além de muito visada pelos ladrões. E, além de consumirmos nossa vida para acumulá-la, consumimos para guarnecê-la. Pior ainda é que, mesmo que tenhamos riquezas, jamais estaremos livres da insegurança e ansiedade, além que possivelmente adotaremos a filosofia do “salve-se quem puder”, tornando-nos indiferentes para com as dificuldades do próximo; sempre preocupados em não subtrair as garantias que já acumulamos.

Se confiarmos em Deus, Ele nos garante de pouco em pouco o oásis paras o descanso, água e mantimentos diários e, além que não teremos que esgotar nosso tempo, vida e saúde atrás de riquezas, não teremos o ônus de conservá-las e transportá-las ao longo da existência, ao custo da solidão e o afastamento de tudo e de todos.

Se enriquecermos, tudo bem, mas que a riqueza não se torne uma carga e atrapalho que nos faça confiar em nós mesmos (tão pequenos e impotentes) e deixar de lado a vontade de Deus, que é a obediência, o amor e a misericórdia, o que pode salvar a humanidade e o mundo. Que a riqueza que adquirirmos seja uma vantagem para nós e para nosso semelhante, pois daí será benéfica em não uma idolatria escravizante que nos sacrificará toda a vida e não melhorará em nada o nosso futuro e destino. - Salmo 37

Wilson do Amaral