Jesus Cristo Superstar

Jesus Cristo, alguém de quem você já deve ter ouvido falar, entrou para a história e se tornou uma das mais célebres pessoas que já pisou nessa terra. Arquétipo da expiação, diz-se que foi enviado pelo próprio deus-todo-poderoso para retirar o pecado do mundo, ensinando aos reles mortais que todos são iguais aos olhos divinos. Compassivo, generoso, humilde e bondoso, seus atos servem como código de conduta até os dias de hoje - vinte e um séculos depois - para milhares de fiéis, os quais acreditam piamente no caráter ético, irretocável e sacrossanto desta figura emblemática.

No entanto, basta um olhar mais acurado sobre o comportamento humano para inferir a falsidade das narrativas criadas em torno de Jesus - que, coitado, sequer queria a adjetivação da cristandade. A razão é simples: ninguém é tão bom ou tão mau quanto parece ser. A existência humana é complexa e multifacetada, não se limitando a dicotomias estanques, as quais nos levam a uma visão de mundo rasa e unilateral. Ou isso ou aquilo. Preto ou branco. Maniqueísmo cordial.

Acontece que a paleta de cores da humanidade é vasta e diversa, muito embora insistamos em pintar quadros monocromáticos; facilita a compreensão. Por outro lado, possui um efeito opioide ao persuadir-nos na direção duma representação fidedigna das figuras ali pintadas. Não acredito nisso, muito embora não possa afirmar irresolutamente a qualidade de alguém que nem mesmo conheci. Para o bem e para o mal.

Diante de toda a histeria criada em torno de seu nome, pergunto-me seriamente o que Jesus faria se soubesse das proporções que seu legado tomou; do impacto e da amplitude que as histórias a seu respeito tiveram no mundo ocidental. Tenho a ligeira impressão de que assustar-se-ia com a capacidade humana de romancear realidades longínquas, criando heróis onde existiram apenas seres ambíguos, falhos e imperfeitos.