Um menino e um motorista há trinta e três anos atrás

Há trinta anos atrás eu, nesta hora e neste dia, estava trabalhando em uma loja de eletrônica no bairro de Pinheiros, aqui em São Paulo. Naquele dia o dono da loja nos chamou e ofereceu um panetone para cada um, panetone este que recebemos de muito bom grado.

Me lembro de voltar para casa de ônibus. O ônibus estava lotado e vim ao lado do motorista deixando o panetone encostado no para-brisa e conversando com o motorista.

Me lembro de ter pensado em deixar o panetone de presente para o motorista que, há poucas horas do Natal, nos conduzia feliz para nossas casas. E eu já sabia pela sua conversa que sua jornada seria longa (naquela época um motorista tinha apenas um dia de folga por mês, mas isto já é outra estória) e provavelmente não chegaria em casa para fazer sua ceia com a família.

Desde aquela época percebi o esforço, o compromisso e a dignidade que devemos ter com quem trabalha. Seja um gênio, um técnico ou um motorista.

Dar o panetone para o motorista me pareceu sensato como dar um presente para alguém que ajuda você ou apenas pelo desejo de ver um sorriso em alguém.

Mas eu falhei, o ponto chegou eu desci do ônibus com o panetone e fui para casa.

Perdi a oportunidade de criar um vínculo novo com o motorista, baseado no respeito e na doação sincera de alguma coisa. Perdi a oportunidade de tentar fazer alguém feliz. Perdi a oportunidade de seguir meu desejo espontâneo de passar para alguém algo que eu tinha.

Perdi a oportunidade de tentar fazer nascer em dois corações o verdadeiro espírito de natal.

De relembrar o dono da festa, sem palavras, mas com atos.

São os atos simples de desapego que nós ajudam a ser e fazer os outros felizes. São as oportunidades de ajudar e nos doar que nos aproximam do divino.

Muitas vezes cruzamos com pessoas e sentimos que poderíamos fazer isto, que poderíamos ajudar, mas muitas vezes deixamos passar (eu ao menos deixei).

Vamos pensar nisto neste Natal, lembrar o que estamos comemorando, e como podemos presenteá-lo com o pouco de bom que já aprendemos. Lembrar suas palavras, como: “Vinde a mim vos que estais aflitos e eu vos aliviarei”. “Aquele que quiser ser o primeiro que seja o último.”

E ver se elas tocam nossos corações para não perdemos as oportunidades de fazermos e sermos felizes.

Um Feliz Natal para você.

24/12/2016

A hora era 12h30min há trinta anos atrás.

Luiz Bertini
Enviado por Luiz Bertini em 23/12/2016
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