"Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração." (Lucas 2:19)
"Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração." (Lucas 2:19)
O contexto desse versículo na perícope lucana onde ele se encontra é de extraordinária beleza narrativa. José e Maria foram obrigados a saírem de sua casa em função de um recenseamento convocado para toda a população do Império Romano, sob César Augusto. Cada pessoa seria obrigada a alistar-se em sua própria cidade. José foi da Galileia à Judeia, à sua cidade, Belém, "por ser ele da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida." (Lucas 2:4-5).
Naquele lugar, chegado o momento, Maria deu à luz seu primogênito, Jesus. No entanto, Lucas sublinha, de forma lapidar: eles não encontraram lugar para hospedagem. Imaginemos a situação difícil e delicada: a esposa em dores de parto e não encontrarem um local limpo e agradavel para o nascimento de um bebê. Jesus, o Emanuel, veio ao mundo numa estrebaria. Teve por berço uma manjedoura, um cocho, local onde se põe alimento para os animais.
Enquanto eles viviam essa triste e difícil situação, um anjo do Senhor dirigiu-se a pastores nos campos ao redor da cidade, a dar as boas novas:
"eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura." (Lucas 2:10-12)
Que contraste entre a dificuldade enfrentada pelos pais de Jesus e a epifania aos pastores que guardavam seus rebanhos à noite. E não só esse anjo apareceu a eles. O relato lucano descreve que, em seguida, "apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem." (Lucas 2:13-14)
Quando ausentaram-se os anjos, assustados e conversando entre si, foram os pastores, apressadamente, a Belém, para verem "os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer." (Lucas 2:15). Vendo o menino, tal qual lhes dissera o anjo, "divulgaram o que lhes tinha sido dito a respeito deste menino." (Lucas 2:17).
O relato ressalta a admiração de todos quantos ouviam os testemunhos dos pastores de Belém. É nesse ponto narrativo a observação lucana: "Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração." (Lucas 2:19)
Sob os olhos de José e Maria certamente o contraste era por demais evidente: a eles, Jesus nasceu como todas as crianças nascem. Nenhuma epifania manifesta a eles. E, no entanto, o relato dos pastores apontavam para fatos sublimes, divinos, acerca da criança. Maria certamente lembrou-se de tudo o que dantes havia passado: o anjo, seu sim, ("Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra." (Lucas 1:38)), a visita à sua prima Isabel, os cânticos de confissão de ambas (Lc 1:42-45; 46-55). Em pouco tempo, menos de um ano, Maria havia passado por inúmeras experiências extraordinárias. Experiências as quais palavras não consegueriam exprimir com sentido e exatidão. Tudo isso Maria guardava em seu coração e meditava, não apenas as maravilhosas palavras de testemunho dos pastores.
Araguari, 17 de Dezembro de 2016