É Natal

Se um dia em nossa vida é como uma página de nossa história, um mês é um tomo e um ano uma enciclopédia. A vida toda e´..., bem a vida toda é uma vida.

De tempo em tempo, abrir nossa enciclopédia torna-se uma experiência extremamente rica. Experimentam-se as mesmas emoções dos momentos mais marcantes, felizes ou difíceis, sem as angústias de quem tem que agir de imediato, nem sempre com o equilíbrio, sensatez e serenidade necessárias.

Foi num desses momentos que ouvi e recebi uma das mensagens de natal mais comoventes. Não era Natal, no sentido cronológico, mas o que é o Natal se entendido como apenas um dia? Era Natal sim, em pleno início de ano.

Estava sob o jugo de grande emoção e angústia, com o sentimento de isolamento que o sofrimento maior nos condiciona, quando uma mão pousou em meu ombro. Antes que pudesse concatenar qualquer raciocínio ou saudação apropriada para o momento, o dono da tal mão me olha fixamente e diz: “Luiz, soube do ocorrido. Não sei como posso ajudá-lo, mas estou aqui.”

A vergonha me impediu de ceder às lágrimas que insistiam em arrombar meus olhos. Não disse nada. Apenas agradeci com um gesto de cabeça. Fomos embora.

Chorei em casa. Senti-me fortalecido. Não estávamos mais sozinhos. Na verdade nunca estivemos.

Mais tarde, chama-nos o destino a novos embates, exigindo e testando os limites de nossa capacidade de suportar e enfrentar reveses. Será que conseguiríamos? Sentimentos de culpa, frustração, impotência e dúvida, testemunharam nossa tímida apresentação.

Problemas viraram a rotina de nosso dia a dia, sonhado de forma tão diferente! Reuniões, individuais e coletivas, jogaram verdades duras e cruas em nossa face, sem qualquer anestesia.

Novamente, sorriu-nos grande ventura que, por incrível, veio de onde menos poderíamos imaginar - de pessoas em condições e sofrimento ainda maiores que os nossos.

A convivência, inicialmente forçada pelos motivos comuns, tornando-se íntima por exigência terapêutica, transforma-se em cumplicidade, solidariedade e, finalmente, sincera amizade.

Aprendemos que a grandeza está não só na mão que se estende para o auxílio, mas também, e talvez mais ainda, na mão que se estende para pedí-lo. Redescobre-se a grandeza na humildade, no reconhecimento do erro, no pedido de perdão, sem qualquer sentimento de humilhação.

Descobre-se que problemas existem para serem resolvidos, e que a serenidade chama a inteligência, capaz de indicar-lhes os caminhos da solução. Aprende-se então, que não há problemas maiores que nós mesmos. E assim, tornamo-nos felizes. Prontos para viver bem o futuro que nos espera.

Neste dia, especial pelo fato de podermos reunirmo-nos em confraternização e reflexão, nada melhor poderíamos fazer para testemunhar-lhes nosso amor e solidariedade que colocar-lhes nossas mãos em seus ombros e dizer-lhes que “não sabemos como podemos ajudá-los, mas queremos que saibam que nós estamos aqui. Sempre.”