"NATAL: A MISERICÓRDIA TEM ROSTO"
Leitura Orante – Natal, 25 de dezembro de 2015
NATAL: A MISERICÓRDIA TEM ROSTO
“Isto vos servirá de sinal:
encontrareis um recém nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12)
Texto Bíblico: Lc 2,1-14
1 – O que diz o texto?
Na Noite do Natal, a Misericórdia “desce” aos rincões da humanidade; uma intensa Luz brilha no interior da gruta e nos convida a olhar contemplativamente todo o universo e descobrir o significado do mundo. “Deus se fez mundo, a misericórdia se faz carne”.
A cena do Nascimento de Jesus pede tempo, presença, assombro... para deixar-nos afetar por ela.
Descer aos rincões interiores com a luz do Nascimento de Jesus; abrir espaço para que a luz chegue até os recantos mais escondidos; “nas cavernas interiores está escondido nosso verdadeiro tesouro”;
Nós nos humanizamos ao mergulhar na humanidade de Jesus.
Humanizando-se, Jesus desatou todas as possibilidades humanas presentes em cada pessoa.
Que a celebração do Natal faça emergir o que há de mais “humano” em cada um de nós.
2 – O que o texto diz para mim?
“Deus se humanizou”: tal expressão revela que a Misericórdia de Deus significa também ternura.
Apareceu um Menino: apareceu a ternura e a doçura do Deus que salva. No rosto de uma criança se faz visível a Misericórdia que desce sempre mais abaixo, que nasce no ventre da terra e se faz terra fértil.
A contemplação do Nascimento de Jesus me impulsiona a fazer a travessia para o interior de uma Gruta: ali o Grande Mistério da Misericórdia se faz visível e revelador do sentido da existência humana.
Trata-se de “entrar” nela com suavidade, de percebê-la e fazê-la descer até o coração, de convertê-la em matéria de consideração e oração silenciosa e surpreendida.
A contemplação desse Menino na Gruta revela que Deus, na sua Misericórdia, assumiu a aventura humana desde seus começos até seus extremos. Deus se fez “tecido humano”, revestiu o ser humano de sua própria glória, plenificou-o de sentido e de finalidade. No nascimento de Jesus é revelada a grandeza, a dignidade, o mistério inesgotável do ser humano. Nossa humanidade foi divinizada pela “descida” de Deus. “Sendo rico, Cristo se fez pobre para que nós participássemos de sua riqueza” (2Cor. 8,9).
3 – O que a Palavra me leva a experimentar?
Diante do presépio de Belém, paro para olhar e contemplar o rosto do Menino Deus, e ao mesmo tempo, mergulhar profundo do coração humano, carregado de misericórdia e bondade.
A misericórdia humana é uma faísca divina que pode se atrofiar, jamais se apagar. São necessários alguns momentos densos para que esta chama seja ativada. A vivência do Natal é um deles.
Em Belém sou pacificada de minhas ansiedades e pressas de fazer mais e de conseguir mais, de minha sede de poder e de vaidade; e se permaneço em silêncio ali, diante da manjedoura, brotará em mim um desejo profundo de ser mais humana, de ser aquilo que já sou, refletido no rosto aberto daquele Menino; ao mesmo tempo, brotará um desejo de venerar cada ser humano, de contemplá-lo em seu interior, esse lugar ainda não profanado em cada pessoa, o lugar de sua infância e de sua paz.
4 – O que a Palavra me leva a falar com Deus?
Senhor, no momento em que o Verbo de Deus assume um rosto, todo ser humano chega à plenitude de sua realização: entra em comunhão com o Infinito e recebe uma dignidade infinita.
A verdadeira Misericórdia sabe desta ternura e desta reverência diante do outro; não é unicamente uma qualidade do modo de ser de Deus, senão o Ser mesmo que Ele é. É o que se entrega, amorosa e delicadamente, e que para isso desce sempre mais abaixo, nos extremos da condição humana.
Misericórdia carregada de humanidade: possibilitadora de tudo o que existe, discreta presença expansiva que ilumina todas as expressões de vida, Rosto que desvela todos os rostos e a todos dignifica.
Abrir-se à dinâmica da ternura parece ser a grande aspiração desse meu tempo, marcado pela frieza nos relacionamentos, pelo preconceito que cria barreiras, pela prepotência que alimenta violências.
5 – O que a Palavra me leva a viver?
Enquanto que Belém arrasta meus olhos para baixo, me convida a olhar para o que não aparece, o que não conta, o que quase não se vê.
Em tempos de deslocamentos forçados para milhões de seres humanos, na era da tecnologia e da comunicação virtual, sou convidada a olhar o “reverso” da história para encontrar salvação, buscá-la sob o signo da debilidade em um entorno prepotente. O Natal me aponta para o pequeno, o último... me faz dirigir o olhar para a periferia, onde o coração de Deus armou sua tenda.
Deus pode ser encontrado na estrada da doação, da partilha, da solidariedade... A única explicação da “descida” de Deus é sua “misericórdia compassiva”.
A indigência e a fragilidade da humanidade atrai a plenitude da ternura e da graça de Deus. No Verbo feito homem me é revelada a grandeza, a dignidade, o mistério inesgotável de todo ser humano.
Sou terna quando me abro à linguagem da sensibilidade, entrando em sintonia com as alegrias e dores do outro; sou terna quando reconheço minha fragilidade e entendo que a força nasce da partilha do alimento afetivo com os outros; sou terna quando acolho a diferença que me enriquece; sou terna quando abandono a lógica da violência, protegendo os nichos afetivos e vitais (grutas) para que não sejam contaminados pelas exigências da competição e produtividade.
Este é o convite insistente do Natal: marcada pela ternura de Deus, viver misericordiosamente.
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COMENTÁRIO DE A.BIGCUORE: bela reflexão que transcrevo do Blog Nos Passos de Paulo, das Irmãs Paulinas, de São Paulo, para alimentar a nossa alma e coração, ao mesmo tempo em que nos serve de subsídio para participarmos da Santa Eucaristia, no dia 24 de dezembro, às 20,00 horas.
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Fonte:
Bíblia na linguagem de hoje – Lc 2,1-14
Pe. Adroaldo, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
www.nospassosdepaulo.com.br (Blog Paulinas)
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