DE...PARA O AMOR

O Natal é uma festa cristã, todavia aqui escrevo na intenção duma mensagem ecumênica de coração...ao amor, posto que existe vários lugares comuns para as mensagens natalinas, aquelas que sem frutificação, se perdem nas valas profundas da nossa atual existência humana.

Num mundo já de século vinte e um, muitos conceitos sócio-antropológicos mudaram, construimos um mundo novo onde tudo pode, reformatado a toque de caixa dos tantos interesses contrários ao amor, mundo que gira qual a velocidade da luz, a nos ficar humanamente impossível não nos reportarmos aos conceitos do amor, os tão pouco exercitados na humanização da vida.

Na era digital , em que interagir como pessoas ficou algo restrito aos dedos e às telas, somos cada vez mais uma multidão solitária de "mini-mundos" virtuais a compartilhar os estereótipos idealizados de ser, maquiados de matéria fútil, nada agregadora, a medida que somos um "macro-mundo" despersonalizado de seres únicos, todavia cada vez mais angustiados, posto que somos cada vez menos existenciais na nossa essência humana.

Sem vivienciar o sentido denotativo e sensitivo de amor entre os Homens, não há como preencher nossos objetivos existenciais de crescimento e interação interiores.

Lembrando que amor, na verdade, não existe sozinho nos crescentes "mini-mundos" egocêntricos das ilusórias redomas cada vez mais vulneráveis ao meio planetário caótico e desumano, que nos priva inclusive da natureza de homens interagindo com o meio ambiente, o que chamo de " a natureza de Deus".

É preciso amor de verdade, aquele sentimento sublime que nos tira dos nossos umbigos eternamente insatisfetios e vaidosos, a nos fazer olhar para o lado e para trás, a rearranjar com as mãos dos corações algo emperdenidos os tantos dos nossos desvios nocivos ao meio.

É preciso o grito do amor a ecoar entre nós, a modificar nossos cenários tão tristes de mundo .

Falar de amor parece fora de moda, a medida que também o amor perde o espaço nesse tempo que não espera ninguém.

Somos seres desenvolvidos , reformatamos em " HD" a vida e o amor para que todos os vivam plenamente "on line", embora cada vez mais desalinhados do todo.

Hoje, em plena época de Natal, embrulhamos todos os tipos de "amores" em pacotes brilhantes, onde a aparência exterior e o valor agregado às compras são expressões de "apreço diferenciado" pelo outro, e de narcisismo empoderado pela vaidade, pela arrogância e pelo poder de poder comprar.

Inclusive comprar tudo...e todos.

Recriamos os conceitos de sucesso pessoal e social, inclusive.

Financiamos o amor em prestações a se perder de vista e nos tornamos seres inadimplentes ao amor de verdade.

Hodiernamente, damos uma nova cara ao amor do mundo das ilusões, afinal somos um mundo em pleno desenvolvimento tecnológico e também tendemos à tecnologia de "tecnocratizar" o amor.

Politizamos o amor, inclusive. O amor tecnocrata e opressivo.

Em nome do amor hoje justificamos tudo, todos os fins duvidosos de meios execráveis!

Em nome do amor e da promessa da extinção do sofrimento ao próximo preenchemos púlpitos cada vez mais desprovidos de interesse real pelo outro.

O outro virou barganha...em nome do amor.

Falar sem agir em nome do "amor pelo outro" apenas engana o sentido alheio simplório e carente, como se engana uma criança, e já nos parece redenção dos pecados sociais do mundo, onde cada vez mais, a despeito do enaltecimento do amor, plantamos ódios, disputas, incrementamos às visibilidades das diferenças até então invisíveis que nos tornam iguais no atual revanchismo social planetário, operamos corrupção material e espiritual, misérias de toda sorte, e saímos de cena "à francesa" ,cada vez mais cientes inconscientes de que fizemos a nossa parte.

Enfim, em nome do amor ao próximo, hoje o mundo desvestimos um santo de amor para revestir outro santo de ódio subliminar, quando não explícito em guerras.

Na era do "whatsapp" é muito mais fácil e socialmente fashion mandar uma "fast" mensagem aos grupos, despersonalizadas em palavras sem sentido real.

Assim, em fração de segundos: como espalhamos o amor! aquele que deveria vir embrulhado em respeito, em apreço vital e individualizado, em abraços.

Não temos tempo a perder com o outro.

Numa "self" personalizamos nossas mudanças temporais, nossos meadros de sucessos e demais caminhos e assim nos compartilhamos nos vazios das tantas gentes...

Assim, ao menos fizemos a nossa parte, sem toques, sem olho no olho, sem ouvidos às dores mudas, sem grandes compromissos com o outro, porque nosso mundo não pode parar para pequenos detalhes.

E aos poucos nos damos conta da nossa holística e triste construção atual, onde a injustiça social crescente dispara a violência e o medo pelo mundo, o inacreditável medo epidêmico entre o seres iguais anestesiados ao amor, numa falta de paz planetária que desqualifica toda a existência arrazoada...ainda que tudo verseje em nome do amor.

O exercício do amor não é protocolar e dispensa os palanques.

É na plantação diária e silenciosa do menor ato de respeito à existência do outro, desde os primórdios dela, que consolidamos a nossa existência e melhoramos a coexistência humanística e humanitária, tão desqualificada nos dias de hoje.

Amor é coisas séria, é aura infeciosa, infecção milagrosa...que cura doenças de todos os tipos.

Amor é aquele sentimento que brota sei lá donde, e que ao bater na nossa porta existencial, nunca nos pergunta "quem é?", apenas nos desperta a razão de entender que realmente cada um de nós "nos tornamos responsáveis pelos outros...", se quisermos ter uma coexistência logística a de fato nos "fazer" sentido à felicidade.

Amor é uma aura que, se lustrada no exercício do simples cotidiano, faz verdadeiros milagres na nossa vida...e na vida do todo.

E nesse sentido, aqui expresso o meu sentido de Natal:

renascer enquanto Homens, todos os dias, à semelhança dum criador que concebemos dentro de nós, do nosso jeito, nas diretrizes dum amor ecumênico, o único sentimento que nos reconduz à nossa verdadeira missão, e portanto, nos presenteia com o prazer de coexistir na paz.

Sem amor...nada faz sentido, e como disse a poesia de CORA CORALINA, brotada já do auge da sua existência terrena:"nada faz sentido se não tocarmos o coração das pessoas".

E é exatamente isso que o amor faz: toca o coração das pessoas.

De fato, quando tocamos o coração das pessoas, num segundo concretizamos uma eterna e plena existência de amor...a única que vale a tão difícil e maravilhosa missão de viver.

"de nós..para o amor": um eterno Natal para todos.