Eu tenho aprendido
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Tenho aprendido tantas coisas...
Tenho aprendido que não é a teoria que responde a prática, mas que a prática exercida produz teoria... quando refletida;
Tenho aprendido que prática destituída de pressupostos e clareza de objetivos, é espontaneísmo, é fazer por fazer...
E, no desafio de unir teoria e prática, ação extremamente exigente, tenho aprendido que além de disciplina, requer coragem na tomada de decisão...
Uma coisa puxa a outra, tomar decisão pode incidir em rupturas, mas... que fazer, o nascimento também passa pela ruptura do coto umbilical...
Ao optar-se pelo exercício de práxis: ação-reflexão-ação, parafraseando Freire, acredita-se que a mudança é possível a partir de pequenas ações da prática diária, inda que árduo exercício.
Daí, a tentativa utópica de perseguir a corporeificação da palavra, ou seja, 'chegar a tal ponto, que a tua ação seja a tua palavra e vice-versa', tem se revelado um aprendizado embora difícil, irrefutável...
Tenho aprendido muito ao perseguir essa tentativa...
Se digo que amo, amo...
Se digo que sou a favor do diálogo, dialogo...
Se digo que ouço, ouço...
Se digo que sou um ser inacabado, aceito as limitações humanas e continuo a aprender...
Então, tenho aprendido, por exemplo a fazer o exercício da escutatória (definição de Rubem Alves) e, tenho ouvido muitas coisas, muitas pessoas, muitos sinais...
Ouço murmúrios, chistes, lamentos, assim como aplausos, vaias, xingamentos...
Queixumes, resmungos e, sem ser Freud, ouço...
Sei que a palavra liberta, por isso ouço...
Sei que esse exercício contribui para o processo de reflexão, de superação e de libertação do ser humano, daqueles e daquelas, que ouço, como de mim mesma...
Infelizmente, não disponho de todo tempo para escutar...
Mas tenho me desafiado ao exercício da escuta a todo tempo, e em todo lugar... e, tenho ouvido além do vento, o pulsar dos corações, seus desejos e, seus sonhos em busca de um novo sentido...
Então, ouço cantigas, hinos, poesias...
Ouço vozes sedentas, simplesmente por serem ouvidas...
Ouço gente grande, balbuciar suas criancices...
Ouço jovens iniciantes, com vozes de experientes cientistas, assim como ouço sábios, com falas simples e humildade de aprendizes...
E, porque tenho ouvido, referencio 'que não é no silêncio que as pessoas se fazem, mas no diálogo...' (Freire)
Então, tenho dialogado com aquelas pessoas todas que vida aproxima de mim.
Por vezes percebo vozes embargadas, entrecortadas de emoção, desestabilizadas por sentimentos de raiva que não lhes permite usar a razão...
Assim, já presenciei o menino saltar à frente do homem e a menina à frente da mulher em várias situações...
Então, sugeri um respirar profundo para recobrar-se a razão...
Dialogar exige paciência... paciência com o tempo e o ritmo que as pessoas levam para soltar suas armas...
Romper amarras em verdades cristalizadas e desencapsular-se de dogmas, é desnudar-se de crenças para permitir-se mergulhar no desconhecido, e isso não é tarefa tão simples...
Dialogar, porém, não é mera aceitação, mas desconstrução e reconstrução...
Dialogar é construir pontes na busca de soluções.
Dialogar não é impor, é sugerir...
Dialogar é acreditar no ser humano, em sua capacidade de pensar, refletir, repensar e, refazer sua ação.
Dialogar é humanizar-se...
E, humanizar-se é aprender a amar, a respeitar, a viver em comunhão.
Ninguém nasce pronto, ninguém nasce sabendo amar e aprender a dialogar é aprender a conviver...
Humanizar-se é aprender a conviver para saber amar e, o diálogo é, não apenas um meio, mas creio, o jeito mais fraterno e humano de evoluirmos enquanto civilização.
Nos tornamos mais gente cada vez que somos capazes de sair de nós mesmos em busca do outro.
Somos mais gente, cada vez que somos capazes de olhar nos olhos do outro e estender-lhe a mão...
Eu tenho aprendido...
Que a vida é difícil, que os seres humanos precisam sempre uns dos outros e, que o amálgama que une o mosaico da existência humana é o amor.
E, se o Natal, não servir para aquecer a fria manjedoura que carrego em meu ser, para acolher o Deus-menino que habita o teu ser, Natal é então, uma mera festa de representação.