RECORDAÇÕES DE NATAL
RECORDAÇÕES DE NATAL
Por: ISABEL C. S. VARGAS
Não são muitas as recordações de Natal de minha infância, assim como não são muitos os brinquedos que povoam minhas lembranças.
Lembro que durante alguns anos moramos com minha avó materna e uma tia que nos acolheu – minha mãe, eu e meus dois irmãos- durante o período que meu pai foi trabalhar fora.
A árvore de Natal que me recordo é a que tínhamos nesta casa. Seus galhos eram de papel verde e os enfeites eram diferentes dos atuais. Bolas coloridas de vidro bem fino, quase uma casquinha de ovo, que ao menor aperto se quebravam, juntavam-se aos pássaros do mesmo material que eram presos aos galhos por uns prendedores de metal, semelhantes aos que são usados, atualmente, nos cabelos. Para dar a idéia da neve sobre os galhos, assemelhando-se às árvores das regiões nas quais o Natal é no inverno, espalhava-se camadas bem finas de algodão. Lâmpadas, nem se pensava à época. Para iluminar, fixavam-se com os tais prendedores, minúsculos castiçais de latão, com velinhas de cera torneadas, nas cores branca, vermelha ou verde, que à noite, ou no Natal, acendíamos. A árvore ficava próxima à janela da sala que dava para uma área interna. Não é difícil imaginar que, com o calor, e a brisa noturna -ou vento forte, dependendo da ocasião- acidentes não eram acontecimentos raros. Pois para frustração geral, a nossa árvore, como outras tantas, incendiou.
Brinquedos preciosos como Ana Lúcia, minha boneca de porcelana com cachos dourados e olhos que abriam e fechavam e que despertavam a curiosidade de minhas amigas que logo os empurravam para dentro com os dedinhos, eram minha alegria. Felizmente, os brinquedos não eram descartáveis, e minha mãe logo mandava consertar, tantas vezes quanto precisasse com aqueles, cujo ofício, para mim se assemelhava ao dos mágicos. Janjão era meu companheiro inseparável, um bebê, manequim de loja, que foi comprado por insistência minha, como me contaram anos mais tarde. A eles, somavam-se duas bonecas menores, iguais, também com o rostinho de porcelana e que eram as gêmeas.
Além destes poucos, mas preciosos brinquedos havia o trem maravilhoso que era para nossa brincadeira, de meu Dindo, meus primos e eu, que era sua afilhada do coração. Foi dele que ganhei o primeiro minúsculo relógio que guardo até hoje, por não ter coragem de jogar fora, apesar de não funcionar e também o casaco de pele- de lontra-, de uso, ecologicamente incorreto, na atualidade.
Após esta época, de doces recordações, segue-se outra, de tempos mais difíceis. Os brinquedos eram raros, para não dizer inexistentes, para desespero de minha irmã menor que não tinha consciência das dificuldades pelas quais passávamos e fazia lista com os brinquedos que desejava, o que só fazia aumentar a sua decepção, ao receber o que era viável – roupa - para o Natal não passar sem um presentinho e para suprir a necessidade imediata.
Apesar das dificuldades, não guardo mágoas. São, apenas, lembranças, que como tantas outras, me reportam às pessoas queridas, que hoje são estrelas em outra dimensão a iluminar nossos caminhos tal qual a estrela de Belém iluminou e apontou o caminho até Jesus Salvador.