Algumas palavras...

Observo que os ponteiros do relógio já vão se juntar, anunciando que mais uma vez vivemos uma véspera de Natal. A julgar por tudo que se fez ( e que se faz) em nome Dele, não resta dúvida que este menino mudou o curso da história humana.

O fato é que a história do menino que nasceu de uma Virgem em Belém revela o desejo mais profundo do ser humano: a superação da sua própria condição limitada, que não lhe parece ser natural. Há quem diga que o corpo é a prisão da alma, eu acredito que a própria existência temporal é um recipiente que retém a vocação nata do homem (e da mulher, obviamente), de transcender e buscar o inquantificável, o eterno, o absoluto.

A encarnação de Jesus Cristo corresponde à aspiração humana de encontrar, finalmente, uma possibilidade de superação da limitação imposta pelo tempo e , sobretudo, pela morte. Deus se faz homem. O absoluto se insere na limitação corporal. Divino e humano se juntam em uma só realidade, convivendo, em um só corpo, ambas as naturezas.

Deus e homem encontram-se em perfeita harmonia. Não seria esse o projeto origina¿

Em todo caso, a flecha humana que persegue “aquilo que está acima” acerta em cheio o seu alvo naquele que é a mais perfeita manifestação do divino dentro da realidade humana.

Que magnífico! O que esperar neste tão majestoso momento¿ Surpresa! Encontramos uma criança, um filhote do homem, a mais frágil e indefesa criatura do reino animal. Por falar em animal, que lugar apropriado se tornou o estábulo naquela noite, pois me parece que Deus preferiu nascer afastado das construções humanas, que por vezes podem cegar e ofuscar a verdade eterna.

A verdade... eu tenho um verdadeiro fascínio pela verdade! Por isso, admito, mesmo com tantas opções disponíveis, ninguém me ofereceu uma proposta mais convincente que o Menino de Nazaré.

Sobre tudo o que ele disse e ensinou não me cabe discorrer agora. Mas, com certeza, a lição que nos foi dada naquela noite já é suficiente para concluir este colóquio.

Deus nasceu, a esperada manifestação do divino ocorreu no nascimento de uma criança. E esta criança faz brotar em nós a esperança da construção de uma humanidade que consiga ir além das prisões e ilusões às quais estamos submetidos.

Não obstante os erros cometidos por quem buscou e se equivocou ao tentar seguir o Menino, a noite do Natal é sempre um ótimo momento para contemplar um presépio e pensar a cerca do projeto de sociedade que nos foi apresentado por quem está naquela manjedoura.

Aquele menino continua vivo entre nós, não é a toa que celebramos o seu nascimento todos os anos. Ah, me desculpe Nietzsche, mas o teocídio anunciado por Zaratrusta jamais se concretizou.

Nós (eu!) ainda acreditamos naquele Menino! Mesmo sabendo que seu nascimento dificilmente tenha ocorrido no dia 25 de dezembro, nós celebramos esta data, pois a sua importância nada tem a ver com um feriado no calendário, pelo contrário, está ligada ao seu caráter atemporal, que projeta este acontecimento para além daquilo que é puramente humano.

Para aqueles que buscam uma alternativa à proposta natalina puramente comercial, com alegria eu lembro que este dia continua sendo, repito, um excelente momento de reflexão...

Feitas estas considerações, acho que agora sim posso dizer:

Desejo a todos um Feliz e Santo Natal!