MENSAGEM NATALINA

EU andava pelas ruas da velha Belém,a companhando a multidão que seguia para uma espécie de tribunal. Era tardinha. Um vento frio batia cortante em meu rosto, ferindo meus lábios e alfinetando minhas mãos. Erqui o manto que trazia jogado em cima dos ombros, transpassando-o por sobre minha cabeça e meu rosto.

Continuei seguindo a multidão. Entrei no tribunal. A sala enorme e redonda com o teto em formato de abóboda era assustadora.

Naquela tarde, dentro daquele espaço estavam sendo julgados doze homens por crimes “políticos!. Eu atuava como parte na defesa destes homens. As acusações que pesavam sobre eles eram fortes. Eu sabia com toda a certeza de meu coração, que eles eram inocentes. Eu simplesmente estava sufocada e desesperada, não encontrava forças para seguir em frente e nem de longe sentia a fé necessária para ajudar-me a tentar inocentá-los com minhas palavras.

Senti-me impotente, pequena, desencorajada. Reuni um pouco de esperança que eu ainda sentia e resolvi começar a defesa em voz alta. Eu tinha que ajudar a inocentálos esta era minha missão na trama. Antes de pronunciar a primeira palavra olhei um a um os doze e eles devolveram o meu olhar. Não sei o que lhes passava no espírito. Eles estavam serenos e em paz. Ao soar de minhas primeiras frases notei no meio da multidãoum olhar especial, muito azul, que me acompanhava em cada gesto, cada palavra, amparando-me anônimo na multidão. Poucos minutos foram suficientes para persuadir o juri de que eles eram inocentes.

Minha missão estava cumprida. Saímos em liberdade pelas ruas de Belém. Ao nosso pequeno grupo, meu amigo que nos esperava no meio da multidão. Tinha sempre o mesmo olhar cristalino, penetrante, brilhante e um ar tão meigo, e carinhoso. Disse-me que estivera comigo durante toda a defesa dos doze e muito antes também.A certa altura de nosso caminhar reparei que as pessoas ao redor não o haviam reconhecido. Achei o fato tão curisos eo perguntei-lhe: Porque nem todos o reconhecem. Ele respondeu-me paciente: Deixa para lá, talvez nem todos estejam me vendo ao seu lado.

Paramos em uma rua mais afastada e meu amigo fez um gesto mais curioso ainda. Deu-me uma mangueira de borracha e disse-me par ajudá-lo a lavar aqueles doze homens do pó e de outras coisas. Respondi-lhe: - Debaixo deste grio? Ele mesmo lavou os homens e em seguida, lavei-me e ele lavou-se também Deu aos doze homens toalhas felpudas e macias para se secarem. Deu-me uma tolaha também e notei que não havia sobrado nenhuma para ele. Tentei achar uma toalha, mas só encontrei farrapos. Quis dar-lhe a minha ele não aceitou devolveu-me com um gesto de agradecimento.

Continuamos nosso passeio pelas ruas de Belém. Ele ia dizendo: Não me canso de estar entre as multidões. Na verdade eu estou sempre por perto, é só chamar. Vocês todos se esquecem, de mim. Eu sou um bom amigo e velho consolar mesmo os esquecidos de nossa amizade. Não vim hoje pelo julgamento, vim apenas para você para dizer-lhe: Segue tua verdade mais profunda, pois ela reflete no que fazes diariamente. Não te importes com outras coisas. As tuas verdades, só tu as conhece, eu e nosso pai. Sejas feliz.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 23/12/2011
Código do texto: T3403972
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