PEDIDO AO PAPAI NOEL
Uma amiga vem me desejar feliz natal, mas antes disso diz timidamente que mesmo sabendo que não gosto da data, é importante para ela fazer esse voto aos amigos.
Não!... Não é que não goste do natal, simplesmente não concordo como o modo como ele vem sendo comemorado. Perdeu-se a essência da data. Ninguém lembra nem mesmo do aniversariante. E olha que eu de religiosa pouco tenho!
As famílias reunidas, lembrando daqueles que já se foram, querendo que os espíritos deles estejam presente, enquanto os que lá estão de corpo presente, estão com seus espíritos longe, querendo estar em outro lugar. Só notam a falta dos que já se foram, pois os presentes, pela obrigação da presença, passam despercebidos!
A situação fica mais caótica ainda, quando paramos para analisar os detalhes e bastidores de tão esperada festa.
Todos querem exibir suas melhores roupas (novas, de preferência... cheirando à loja), colocar em suas mesas os mais nobres ingredientes, acomodados em suas mais elegantes louças, tudo rodeado de uma farta decoração natalina, para que todos se sintam envolvidos no clima.
Sorrisos espalhados em todos os lados, desde que não se chegue à cozinha, pois é lá, nos bastidores, que a coisa começa a desandar.
E aquele oi querida que saudades... Nossa como você está linda... Que prato apetitoso... e coisas do gênero, dão lugar às pequenas intrigas!
Isso sem falar em todos que vêm nos cumprimentar, não só os da família. Quanta falsidade junta! Gente que o ano inteiro nem reparou nossa presença e até aquele povinho que adora uma fofoca, uma intriga nos vem desejar boas festas!
Ah... Não consigo gostar mesmo do Natal... Vejo-o como a festa da hipocrisia.
Tanto que este ano, resolvi pedir ao Papai-noel um presente: para que me sinta mais confortável na data, que tal me dar um pouco dessa mesma hipocrisia?
Assim passarei a ser mais cordata, sensível, maleável, uma verdadeira natalina! E passarei a chamar a todos de meu amor, queridinhos, amadinhos. Esquecerei os dramas do mundo, as crianças abandonadas e com fome, o desespero dos pais desempregados e colocarei toda a fartura do 13º salário à disposição de tão nobre motivo: a exibição do poderio econômico de cada um, em seu próprio beneficio!
E então falarei, de boca cheia (inclusive de comida):
FELIZ NATAL!
Santo André, 16.12.05 – 23:35 h