MENSAGEM DE NATAL

Mensagem de Natal

- Ufa! Já começou Dezembro! E toda a correrria que ele traz consigo! , resmungava Maria enquanto virava a página do calendário. Rapidamente os flashes de outros Natais passavam em sua mente.

Fazer compras, compras, compras. Fazer contas, contas, contas... As ruas cheias, o supermercado super lotado, o trânsito um caos, os táxis com a tarifa mais cara, passavam pela multidão como se apostassem corrida para ver quem era mais louco ,a máquina ou o ser humano...

E a véspera de Natal, com sua costumeira jornada em frente ao forno e o fogão.? Já era uma tradição, antecipação de festa para as visitas e martírio para a dona da casa que teria que ficar horas nas tarefas básicas: Assar, fritar, amassar, temperar, cortar, arrumar. Empregada para ajudar, na véspera de Natal? Isto não existe, e quem quiser a empregada na véspera de Natal, comete um crime inafiançável, contra os direitos humanos. Afinal, toda doméstica tem seu dia de “folga”, justamente escrevi entre aspas, porque se elas não trabalham na patroa, vão trabalhar dobrado em casa.

E as gorjetas, caixinhas, para os funcionários da companhia de água, luz, gás, os porteiros do prédio, os faxineiros, a tarifa maior dos taxistas, enfim, conforme ia lembrando ficava mais revoltada e pensava: - Que raios de festa é esta? Todo ano é a mesma coisa, a gente termina sempre com mais dívidas, mais cansada e ainda tendo que arrumar tempo para cuidar da beleza. Fazer unhas, cabelo, massagem, ficar o mês inteiro só bebendo água para entrar na roupa na noite de Natal.

Sem contar, as visitas indesejáveis que insistem em aparecer sem ser convidadas, e sem um pingo de vergonha, penetram em sua casa, beliscam tudo o que encontram, sujam tudo, do chão ao teto, e no meio ficam as paredes como mudas testemunhas das dedadas e roçadas de corpos suados, cabelos lambuzados de cremes, gel.

E os comentários maldosos, que não foram solicitados e também não são selecionados ao serem despejados aos seus ouvidos? - Nesta árvore de Natal está faltando mais bolas! - O presente do Eduardinho poderia ter sido diferente, ele já não é tão pequeno, vai virar adolescente.!

E os presentes que você recebe? De quem não tem a menor sensibilidade. Um vestido bem largo, três vezes maior do que entraria em você. Só para te fazer lembrar que já estás fora do peso, e que seu caso é mórbido, sem solução. Claro, quem presenteou, ou foi sua nora, ou a sogra da sua filha, ou seu genro debochado, que está acostumado a te dar tantas alfinetadas, só com a intenção de se divertir (sem querer te ofender, é claro), como se mandasse um recadinho: - È você está mesmo uma bola, boa para ser chutada!

Maria continuou pensando, relembrando, revoltada, insatisfeita, consigo mesma. Gostaria de dar um basta em toda essa falsidade que cercava a rotina de todos os Natais. Até teria coragem para comentar com a família que desejava fazer algo diferente., porém sabia que suas idéias seriam repudiadas. Pois os três filhos não abririam mão das comemorações usuais.

O pior não era todo o trabalho, isto poderia ser considerado distração. O pior era aturar o discurso do marido e do cunhado, depois que eles bebiam até cair, oomeçava o show: Cada um querendo fazer suas graçinhas. Ficavam chatos e patéticos, bêbados, pensavam que era o máximo. Não tinham nem autocrítica para enxergar a realidade da situação em que s se encontravam.

Após muito pensar Maria respirou fundo e desejou estar a quilômetros dali. Talvez num cruzeiro pelo mar, só curtindo as mordomias de uma semana a bordo em um dos melhores transatlânticos de luxo. Sonhava, imaginava de olhos abertos.

Foi dormir e o bichinho da insatisfação comia suas idéias. Na manhã seguinte, na fila de um enorme banco, para validar uma senha do cartão bancário. Maria presenciou uma cena que jamais esqueceria. Uma mulher com uma criança no colo passou a frente de todos os presentes, sem dar nenhuma explicação. Quando a pequena multidão que estava na fila quase a linchou ela indiferente apenas olhou para a placa que indicava que pessoas com crianças de colo tinham preferência. Maria viu a simplicidade da mulher e registrou em sua mente. Naquela mesma tarde, em casa começou a ligar para suas amigas. Depois de vários telefonemas, e muitas anotações, Maria sorriu satisfeita. À noite comentou com o marido o que resolvera fazer no dia de Natal, e ficou abismada com a alegria que ele demonstrou em encontrar todos os amigos em uma festa.

Os filhos de Maria não ficaram muito satisfeitos com a idéia, pois acreditavam que a diferença de idade entre os presentes poderia levar o clima da festa para a “velharia”.

A noite de Natal chegou, os amigos foram chegando com seus familiares, Maria, o esposo, os filhos e os netos, recebiam a todos com uma alegria simples e aconchegante. Cada pessoa que chegava trazia um prato de salgados, assado, doces, refrigerantes. A mesa ficou lotada de iguarias e aquela festa jamais foi esquecida para aquele grupo. Algumas amigas de Maria tinham filhos quase da mesma idade, alguns foram colegas de infância. Ao se encontrarem ficaram felizes, pois colocaram as conversas em dia, e relembraram juntos momentos inesquecíveis.

Logo após a meia-noite a luz acabou. Velas coloridas foram acesas e a ceia continuou num clima muito especial. Sem música, algumas pessoas começaram a entoar velhas canções natalinas e foram acompanhadas por todos até mesmo por algumas crianças que ainda estavam acordadas. Já era madrugada quando todos se despediram e voltaram para suas casas, tão empolgados com a comemoração esqueceram a falta de energia elétrica, o principal eles tinham era a luz do espírito natalino que brilhava em profusão naquela reunião.

Maria experimentou sair da rotina e sentiu-se renovada com a benção da multiplicação.

O Natal é uma data milagrosa, transforma sonhos em realidade, basta acreditar e buscar o caminho para concretizá-los. Alcançar objetivos nem sempre é o mais importante, podemos falhar pelo caminho ou não encontrarmos os resultados que buscamos. Podemos também encontrar na diversidade dos acontecimentos, a surpresa da colheita de frutos diferentes, com sabores mais doces e suaves.

A magia do Natal percorre o planeta, incentivando novos sorrisos, novas essências, novas semeaduras que no futuro se tornarão árvores frondosas que irão oferecer sombra e frutos para as próximas gerações.

Feliz Natal!

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 23/12/2010
Código do texto: T2688580
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