O Repórter do Novo Testamento, entrevista a Virgem Maria. Mãe de Jesus
Texto Vicente Abreu.
Caminhando apressado pelas ruas de Jerusalém, rumo a um encontro muito importante. Eu estava indo falar com Maria, mãe de Jesus. No meio, João, o jovem discípulo de Jesus, que tinha assumido Maria com o sua mãe logo após a morte do Mestre, esperava po0r mim. Subimos pelo vale do Cedron até chegarmos à cidade alta. Em seguida, passamos pelo palácio de Herodes e chegamos a uma casa ampla e confortável.. Era a casa de uma outra Maria, a chamada “Maria mãe de Marcos”. Essa casa era o local onde primeiros cristãos se reuniam para o “partir do pão”.
Maria, mãe de Jesus, lá estava hospedada. Eu estava esperando numa sala quando a vi surgir de uma porta toda iluminada. Seu meigo olhar irradiava paz, amor, serenidade e bondade. Senti uma alegria imensa tomar conta de todo o meu ser e uma emoção maior ainda quando de mim ela se aproximou.
Ao ser, por João, a ela apresentado, a força que irradiava daquela tão doce criatura, fez-me com que ajoelhasse para saúda-la.. Carinhosamente, ela pegou em meus braços para levantar-me, quando João tentou impedi-la ( porque uma mulher judia, não pode tocar em estranhos, e menos ainda sendo ele “estrangeiro” como eu) mas, ela simplesmente olhou para ele que, imediatamente entendeu e respeitou aquele tão meigo olhar. Ao levantar-me, ela pousou suas delicadas mãos em meus ombros e disse: “Ajoelhar-se, meu filho, só diante de Deus. Eu concordei e, após um breve silêncio ela convidou-me à sentar.
Maria, mãe de Marcos, trouxe-nos um suco de uva que ajudou-me a acalmar; quando então, começamos a conversar sobre os fatos que envolveram o nascimento de Jesus, desde a anunciação até o nascimento em Belém.
Foi uma conversa maravilhosa, da qual, transcreverei dois textos que mais me impresionaram; onde Maria fala sobre as dificuldades pelas quais passou durante a sua gravidez.. Eu sempre quis saber como é que ela via o fato de ter passado por grandes dificuldades, mesmo trazendo em seu seio, Jesus, o Filho de Deus. Normal seria pensar que Maria, sendo a escolhida para ser a Mãe do Salvador, fosse “poupada” por Deus de problemas e dificuldades e que tudo daria certo em sua vida. Mas não foi isso que aconteceu. Vejamos então na íntegra a entrevista que ela nos concedeu.
REPÓRTER DO NT: Quer dizer que Deus não facilitou as coisas para a
senhora, mesmo estando carregando em seu
seio o Seu Filho Jesus?
MARIA: O livro de Bem Sirac tem uma frase que eu guardo em meu
coração: “Se entrares para o serviço do Senhor, prepara a
tua alma para a provação. Não te assustes quando te
sobrevier alguma dificuldade. Pois, como o ouro é provado no
fogo, os eleitos do Senhor são provados na humilhação e na
dificuldade”. Faz parte da sabedoria de Deus não tirar as
dificuldades do nosso caminho. Através das dificuldades
nós nos tornamos mais fortes e mais huimildes. É Deus, com
sua sabedoria divina, nos educando.
NOTA: O livro Bem Sirac é o que
conhecemos como “Eclesiástico”,
escrito cerca de 200 anos antes do
nascimento de Jesus. O trecho
citado está no capítulo 2,
versículos de 1 a 6.
REPÓRTER NT: Eu soube que quando a senhora e José
chegaram a Belém, não encontraram lugar para
ficar. Como foi isso?
MARIA: É verdade, nós tivemos que sair de Nazaré com destino a
Belém por causa do recenseamento que o imperador
romano ordenou que fosse feito. Tivemos que fazer
essa viagem, embora eu já estivesse no nono mês,
porque José, meu esposo, era de Belém.
REPÓRTER NT: Foi muito difícil essa viagem?
MARIA: Em se tratando da viagem propriamente dita, foi,
mas eu superei todas as dificuldades porque Jesus
estava dentro de mim dissipando o medo e qualquer
dúvida do coração. Eu tinha certeza que o Pai
providenciaria tudo. E José (Maria se emociona) José
foi o homem perfeito que me acompanhou em todos
esses momentos. Ele foi corajoso, prestativo, carinhoso
e amoroso o tempo todo. Nisso eu via também a providencia
do Pai, dando-lhe forças para cumprir a sua missão de marido
e pai de uma família tão maravilhosa como a nossa, não
nos deixando passar por nenhuma necessidade. José foi
realmente um presente de Deus para mim e para Jesus a
quem ele amava profundamente.
REPORTER NT: Quando nós saímos de nossa terra e vamos para
terras estranhas, sentimos algumas dificuldades.
Vocês sentiram isso em Belém?
MARIA: Não. Quando se está na graça de Deus, por maiores que
sejam as dificuldades nós não a encaramos como dificuldade
ou problema. A graça de Deus nos ajuda a perceber que o
Pai está cuidando de nós mesmo quando as aparências
tentam nos convencer do contrário. Além disso, a fé nos
mostra que, de alguma maneira toda a dificuldade que
enfrentamos será para o nosso próprio bem. E foi isso que
aconteceu. Eu e José sabíamos que a providência do Pai
estava cuidando de nós e que tudo seria para o nosso bem,
apesar da “aparente” dificuldade.
REPORTER NT: Aparente dificuldade? Poderia explicar melhor?
MARIA: É que meu corpo já começava a dar sinais de que o parto
estava próximo e eu sentia todo o desconforto de uma
mulher grávida aos nove meses. Toda mãe sabe o que é isso.
Numa situação dessas, se você não encontra um lugar onde
possa ficar para dar à luz um filho com um mínimo de
conforto, tudo fica mais difícil. Porém, se você está na graça
de Deus, sabe que está vivendo de acordo com o plano do
Pai, e quando se faz a vontade do Pai nenhuma dificuldade
consegue tirar a sua paz. Era isso que acontecia comigo e
com José.
Do ponto de vista humano, material, nossa dificuldade era
imensa. Faltava tudo. Porém, nós sabíamos que estávamos
vivendo segundo a vontade de Deus. Por isso a dificuldade
parecia menor. E o consolo de Deus dentro de nossos
corações era tão grande que não sentíamos medo e nem
resmungavamos em momento algum.
Isso não quer dizer que não sentimos a gravidade da
situação. Sentimos sim. Como toda pessoa que sente em
algum ou em vários momentos da vida.
Mas quando se vive na graça de Deus, você tem uma força
muito maior para superar tudo o que vier. Por isso, José não
desistiu. Ele me deixou num lugar seguro, onde havia água e
alimentação e saiu à procura de um lugar para nós.
Belém, por ser uma aldeia muito pequena, estava abarrotada
de gente por causa do recenseamento. José se ausentou por
mais ou menos uma hora e chegou com um primo dele,
chamado Benjamim. Ele nos ofereceu um estábulo. Era a
única acomodação disponível. Fomos para lá sem receio.
Quando chegamos, vimos que era um lugar discreto e muito
aconchegante. Ficava ao lado da casa desse primo de José e
só nós estávamos lá. Tinha água, abrigo do frio, animais que
ajudavam aquecer o lugar e familiares amorosos por perto, que
nos cobriram de atenção, de cuidado e de toda a alimentação
que nós precisamos. Inclusive trouxeram uma parteira para me
ajudar, mas quando ela chegou Jesus já tinha nascido e já
estava dormindo na manjedoura.
REPORTER NT: Como foi o nascimento de Jesus?
MARIA: Assim que o primo de José saiu, eu senti que Jesus começou
a nascer. Sentia as contrações e toda a força que meu
corpo fazia, porém, não sentia dores. Foi um parto tranqüilo.
A única pessoa que estava presente e que me ajudou em
tudo, foi José. Jesus nasceu nas mãos dele. Assim que
terminou, José foi quem cortou o cordão umbilical. Foi José
quem ferveu água e lavou a mim e a Jesus; enrolando-O, em
seguida, em uma faixa.
Havia um brilho diferente naquela noite. José saiu para
contemplar esse brilho e ao voltar falou-me que tinha visto
uma estrela muito brilhante no céu.
Só depois, quando os magos vieram do Oriente e nos falaram
sobre a tal estrela que eles vieram seguindo, é que nós
compreendemos. Depois vieram pastores que estavam no
campo e disseram que foram avisados por anjos sobre o
nascimento do Salvador. Nós ficamos admirados com a
sabedoria de Deus.
REPÓRTER: Por que?
MARIA: Porque Deus revelou o seu maior segredo aos pastores, isso é,
aos pequeninos, aos mais humildes. Os pastores, inclusive, são
mal vistos por muitos e não gozam de muita credibilidade entre
outros tantos, cheiram mal e são muito simples. Mas, são
também unidos, alegres, trabalhadores e humildes. Pois foi a
estes que o Pai revelou seu segredo mais precioso.
REPÓRTER NT: Todos os povos se alegram com o nascimento de
Jesus. Algum artista da época demonstrou essa
manifestação.
MARIA: Sem dúvida. Mas de todas as manifestações, uma me tocou
fundo porque retratou em versos toda a nossa trajetória.
REPÓRTER NT: A senhora se lembra dessa mensagem e poderia
nos falar?
MARIA: Claro que sim. Foi um belo poema escrito pelo
Prof Sebastião Gomes, intitulado TRAJETÓRIA E NASCIMENTO
DE JESUS. E dis assim:
Caminhava pra Belém, Maria de Nazaré.
Com ela ia também o seu amado José!
No seu ventre imaculado, a Virgem Santa conduz
Das nações o desejado. O seu divino Jesus.
Penosa a caminhada.
O parto não tardaria.
E José por toda a estrada,
Não dizia quase nada.
Só pensava em Maria!
Chegaram. Mas da cidade, nenhuma porta se abriu.
Que tristeza, que ansiedade o bom José não sentiu!
Percorreu todas as ruas.
Encontrou-as todas nuas
De carinho e de amor.
Ninguém jamais pensaria
Que, no ventre de Maria,
Habitasse o Redentor!
Oh José, meu bom amigo,
Também me alegro contigo,
Nesta noite de Natal.
Embora esse nosso mundo,
De violência tão fecundo,
Tão medonho, falso e mau!
Queira Deus que o Teu menino,
Tão meigo, tão pequenino,
Que chega assim sorridente;
Traga entre os seus dedinho,
Muito amor, muito carinho
Transformando a nossa gente.
Nessa hora com certeza,
Acabará a pobreza
Que domina os corações.
Todo mundo, de mãos dadas,
Sairá pelas estradas
Entoando mil canções.
O egoísmo que aperta
Se dissipará na certa
E o mal será destruído.
E as pessoas sofredoras
Serão as adoradoras
Deste Teu Filho querido;