Ó pomba foge, foge!

O que é que distingue o homem dos outros animais?
Um investigador de antropologia descobriu tribos selvagens em cuja linguagem falta a palavra AMOR.
Se o não tivesse copiado das pombas o homem seria incapaz de inventar o beijo.
A poesia é alma sem o invólucro da natureza. A poesia é, pois, o NADA.

O homem é o único animal que só toma consciência da sua finitude quando um vivo empurra com o pé a sua cabeça para dentro de uma campa sombria?

Antigamente vendia-se a honra.
Hoje o pistolão vende a honra por trinta dinheiros ou por um prato de lentilhas, mas, passado um quarto de hora, compra, na página triste de um jornal, uma honra novinha, zero quilómetros.

Todos os animais vendem a honra. As fêmeas, adjudicam-se; os machos, bigamizam-se.

A abelha demite-se da vida no veneno que injecta! O homem provoca o sofrimento e fortalece-se com essa malandragem. Onde está a verdade?

O Poeta tenta convencer os seres humanos – todos – que a poesia é o encontro do inverno áspero e glacial com o estio sufocante da paixão, corações a desbordar de afectos.

Não. Não é a alma que distingue o homem dos outros animais.
É a mentira.
O homem é o único animal que mente!
Ó pomba foge, foge!
ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 03/12/2009
Reeditado em 03/12/2009
Código do texto: T1958590
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