EU? A VELHA MAROCAS?
EU? A VELHA MAROCAS?
AMOR PELO PASSADO AMADO E SOFRIDO. ESSA FALTA TODA BEM NA ÉPOCA DO NATAL... QUE SAUDADES MÃE!
Lá perto da minha casa, tinha um morro e nesse morro havia uma figura tenebrosa, gigante e assustadora.
Minha mãe falava que era a velha Marocas. Ela dizia que a velha Marocas descia o morro todas as noites para pegar criancinhas que aprontavam.
Que ela levava em um saco as crianças e cozinhava para jantar.
Tudo que eu e meu quatro irmãos fazia de errado, a mãe falava. “Eita que é hoje que a velha Marocas leva o saco cheio de capetinhas levados” eram palavras mágicas que transformavam os capetinhas em anjinhos imaculados...
Por alguns momentos, é claro.
Eu que sempre fui uma verdadeira encapetada era a mais ameaçada dos poderes da velha Marocas malvada.
Lembro que às vezes a velha Marocas estava quase chegando na estrada... Descia o morro e ameaçava vir até o vilarejo de dia mesmo...Parece que ela voava. Era assustadora a bruxa má.
Passaram-se dois anos e minha mãezinha faleceu, eu estava com onze anos.
Um dia fugi da casa de meus avós, “eles ficaram comigo...coitados”.
Resolvi então desafiar a velha Marocas. Queria falar com ela. Não sei porque, mas senti essa necessidade.
Talvez por acreditar que ela tinha alguma ligação com as lembranças que eu tinha da minha mãe.
Já não sentia mais medo, era como se a velha Marocas pudesse entender a falta que a mãe fazia para mim. Queria a cumplicidade dela.
Afinal, ela passou vários anos a nos observar e ela deveria entender a falta que até o medo que a mãe fazia a gente sentir, estava fazendo falta.
Quem sabe a velha Marocas nem era tão má assim?
Decidida como sempre fui, subi o morro então. Confesso que a adrenalina estava entre eu e os poucos metros que me separavam da lendária velha Marocas, mas fui enfrente.
Já podia vê-la envolta naquele traje macabro branco. Fui aproximando-me e...
Cheguei, estiquei minhas mãos tremulas e a toquei...Meu Deus! Eu toquei a velha Marocas.
Que mistura de medo, curiosidade. Suava frio e quase desmaiei. Ouvia a vós da mãe falando “ ela vem te pegar” senti náuseas ao tocar aquele plástico. Plástico????? O que?
A velha Marocas nada mais era que um pedaço de plástico gigante?
Anos e anos ali me assustando? Confesso que fiquei até com raiva da mãe e depois comecei a rir.
Que mãe levada e sapeca. Se a velha Marocas fosse levar alguém que fazia traquinagem, com certeza seria a mãe.
Pensando assim, deixei o plástico no mesmo lugar e desci o morro, hora chorando, hora rindo. Que saudades da mãe, do cheiro da mãe.
Estava distraída e o que me trouxe de volta a realidade, foi o choro de várias crianças.
Elas estavam com suas mães e se escondiam de mim... De mim? Porque?
Umas mães com caras de levadas e rindo muito explicaram que a lenda da velha Marocas havia se espalhado no bairro e que foi uma tal de dona Eurides quem a começou. Uma senhora que morava no bairro e morreu há pouco tempo.
A outra mãe disse que o filho pegou medo até do Papai Noel. que quando vê um com o saco na mão na frente das lojas, sai correndo.
(Nem falei que se tratava de minha mãe senão as criancinhas poderiam querer me matar)
Desde então elas também usaram a Velha Marocas para seus filhos deixarem de serem desobedientes.
Hoje quando eu estava lá mexendo com a “Velha Marocas” as crianças perceberam e quando viram eu descendo o morro, pensaram que a velha finalmente vinha buscá-los.
Foi então que começou um chororó desenfreado no bairro e olhe que tinha uns pestinhas que começaram a jogar pedras em mim e sai correndo atrás. Eles viraram pó, desapareceram rssssss.
Fui embora e tenho certeza. Senti a mãe rindo da minha cara. Em todo caso...CUIDADO COM A VELHA MAROCAS E CRIANÇAS, O PAPAI NOEL NADA TEM COM ESSA HISTÓRIA.