Papai Noel Existia

MILHARES RECEBEM PAPAI NOEL NA ZONA LESTE

Uma multidão se concentrou ontem, no Largo da Concórdia, à espera de Papai Noel. A festa contou com números de dança e show de circo com o palhaço Arrelia. Às 17h20, Papai Noel chegou, dando início ao desfile de carruagem. Ele recebeu do prefeito Wladimir de Toledo Pizza a chave da cidade. ("Folha da Manhã", 09/ 12/1956).

Notícia que tem mais de 50 anos e mostra o quanto mudamos em relação à diversão, à alegria, a uma ilusão necessária para que se atenuem os cinzas da vida.

Não estava ainda no planeta, portanto, apenas posso imaginar o Largo da Concórdia em São Paulo repleto de pessoas, tanto que a notícia fala em milhares e a imagem da foto confirma. Entre pessoas mais velhas, meia idade, recém chegados à vida adulta, moços e criança, todos celebrando a proximidade de mais um natal e ansiosamente aguardando a chegada de Papai Noel.

Em meio aos presentes a maioria sabia que não passava de fantasia tudo o que se atribuía ao bom velhinho, mas eles deixaram suas casas, caminharam, foram de bonde, tomaram o ônibus, chegaram de trem, pois, no consciente coletivo estava a importância da valorização da fantasia para as crianças.

Tanta gente reunida, dançarinos, Arrelia e o prefeito, não apenas dava glamour à chegada de Noel, mas a cima de tudo estava querendo dizer para os pequenos: "Papai Noel existe". Era importante manter a crença, até porque todos sabiam da brevidade de sua duração e exatamente por durar tão pouco e produzir efeitos positivos para o resto da vida, havia uma união coletiva pela alegria das crianças.

Nos dias atuais daria para mobilizar uma cidade pra esperar Papai Noel? E por que não dá? Porque somos mais informados? Porque é uma tremenda bobagem alimentar esta fantasia para o mundo infantil? Porque a imagem do bom velhinho está diretamente vinculada com o consumo? Porque um presidente sul americano com pretensões de líder das massas o baniu de seus país, dando a Papai Noel a importância política que ele nunca pediu pra ter? Responda como quiser, mas perdoa-me pelo atrevimento da minha resposta.

Não mobilizaríamos uma cidade pra esperar Papai Noel, porque nos tornamos individualistas. Pouco importa se as "estórias" são importantes no mundo infantil, eu é que não vou contribuir pra isso, ficando de pé num largo qualquer esperando o famoso quem? Papai o quê? Sinto muito, tenho mais o que fazer como: deletar meus e-mails. Tenho mais é que ganhar dinheiro, senão, o que comprarei nesta natal. E minha caneta montblanc? Dá licença, tenho que ganhar dinheiro se quero comprar, afinal não acredito em Papai Noel!

Ora, então não é Papai Noel que te leva a consumir, o consumismo não mora no velhinho de roupa vermelha e barba branca, o desejo de consumir está em cada um de nós. E se há um apelo maior em épocas natalinas a verdade é que consumimos sempre.

Uma cidade não pararia pra esperar Papai Noel porque qualquer um pode sê-lo, inclusive você. E no mundo atual não é qualquer um que merece sua atenção, seu tempo. No fundo você não assume, mas neste qualquer um está incluído seu filho e atém mesmo você. Se ao invés de Papai Noel fosse uma grande estrela da música (vide Madonna), é quase certo que você estaria o mais cedo possível num estádio qualquer em busca do melhor lugar pra vê-lo. Porque você só acredita que valha a pena aquilo que se paga e quanto mais caro, tanto melhor.

Esperar Papai Noel não seria mais um grande acontecimento numa metrópole porque simplesmente perdemos a simplicidade e com ela se foi também a felicidade natural das coisas simples. Noutras palavras já não sabemos apreciar o sorriso e tampouco o brilho dos olhos de um filho que acena para um Papai Noel acreditável.

Papai Noel só se torna crível para um adulto, quando filtrado por uma alma pura é visto cheio de luz dentro dos olhos de uma criança.

Houve um tempo em que a simplicidade existia e naturalmente com ela Papai Noel.

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Paulinho Boa Pessoa
Enviado por Paulinho Boa Pessoa em 22/12/2008
Reeditado em 22/12/2008
Código do texto: T1349066