melhor presente

Melhor Presente

Acertei sozinho as dezenas da mega-sena. Tinha certeza de que com grana não mudaria meu comportamento. Estava enganado, não me conhecia rico. A primeira coisa que fiz foi abandonar minha mulher de 50 anos e passar a viver junto de uma boneca de 20. O que esta boneca me pedia eu fazia e ela pedia tanto, que pra atendê-la deixei de visitar a minha mãe. A princesa também era super exigente à mesa e justamente por isso eu demitia uma cozinheira a cada dez dias.

Seria aquele o primeiro natal que passaria ao lado da princesa. Apaixonado eu sai pelas ruas do comércio. Não era qualquer loja que serviria e depois de selecionadas as lojas, selecionaria os objetos com potencial de super presentes. Entendeu. Isso mesmo, eu queria comprar o melhor presente que houvesse a disposição dos mortais naquele natal.

Não interessava o preço, desde que fosse o mais bonito, o mais interessante, o que fosse capaz de causar a maior surpresa. Eu queria aquele presente que causasse o maior sentimento de incredulidade em quem o recebe, aquele que fizesse a pessoa presenteada parar e pensar: “será que eu o mereço”?

Confesso que não é fácil encontrar um presente assim, mas eu não iria desistir tão fácil. Entre todas as lojas visitadas, eu agora tinha apenas três opções. Uma joalheria, uma agência de automóveis e uma agência de viagens. Numa delas estaria o super presente que daria naquela natal. Pensei que ficaria mais fácil agora, mas que nada, ficou muito mais difícil.

Na joalheria separei aquele jogo que conseguia juntar as maiores preciosidades: pérola, diamante, ouro branco e até esmeralda. Tratava-se de um conjunto de brincos e gargantilhas.

Na loja de carros escolhi um importado num modelo recém lançado com todos opcionais possíveis. Basta que eu comente um detalhe pra que você possa entender sobre a sofisticação do auto. No teto solar havia um sensor pra chuva. Quando aberto, três minutos antes de caírem os primeiros pingos, o teto automaticamente se fechava.

Na agência de viagem o escolhido foi aquele cruzeiro pelas “Ilhas Gregas” e fui convencido pelo brilho dos olhos da moça que me atendia quando falou: “senhor este passeio é maravilhoso, observe: As ilhas constituem o principal aspecto morfológico do espaço geográfico grego e parte integrante da civilização e da tradição do país. O território da Grécia compreende 6.000 ilhas e ilhotes, espalhadas por todas as partes dos mares Egeu e Jônico, das quais somente 227 são habitadas”. A interrompi falando que ela não precisava dizer mais nada, este era o passeio escolhido.

O grande problema agora estava em decidir que presente finalmente comprar. Experimentei como homem a angústia da indecisão feminina, agora entendia o quanto uma mulher sofria ao ter que decidir o que levar. Mas que tolice, concluí. Afinal, dinheiro não era o problema. As mulheres sofrem porque nestas ocasiões só podem escolher um, mas eu posso comprar os três e minha chance de errar é zero. Vou agradar e impressionar muito mais. Antes que as lojas fechassem, comprei as jóias, o carro e a viagem.

No porta-luvas do carro pus a jóia e dentro do manual do veículo os bilhetes da viagem. Contratei um caminhão cegonha pra levar o carro até a garagem da minha nova mansão. Entrei em casa e fui direto pra suíte principal onde com certeza ela estaria se deliciando na banheira com sais e espumas.

Mas ao invés de surpreender, fui surpreendido. Encontrei apenas um bilhete que ela havia deixado sobre a cama arrumada. “Não posso mais continuar brincando com seus sentimentos, nunca te amei. Apenas estava com você interessada em seu dinheiro. Hoje minha atitude pode parecer castigo, mas com o tempo você entenderá que é este o melhor presente de natal que eu poderia lhe dar. Devolver-lhe o direito de ser feliz ao lado de quem o ame”.

Como ela dissera em seu bilhete, primeiro amarguei as dores do castigo. Mas olhei para o relógio e vi que já eram dez da noite. E eu teria que distribuir os presentes que estavam na garagem, mas pra quem eu daria presentes tão valiosos. Quando entrei no carro que havia acabado de comprar, vi que a minha cozinheira saia pelo portão dos empregados ao encontro do marido que a esperava. Chamei por ela e pedi que esperasse. Quando lhe entreguei os bilhetes e os comprovantes de pagamente de navios e hotéis, ela incrédula me olhou de disse: é pra mim, mas o que eu fiz por merecer? Respondi apenas com um feliz natal e boas férias.

Sai com o carro e fui direto pra casa de minha mãe. Nas mãos dela entreguei as jóias. Ela incrédula me olhou e disse: meu filho, mas tudo isso, será que mereço? Dei um beijo em sua face, desejando-lhe feliz natal.

Buzinei o carro em frente a casa da minha ex-mulher, que sozinha saiu a rua assustada pra saber do que se tratava. Quando entreguei pra ela a chave do carro, ela exclamou: Mentira! É pra mim? Mas ultimamente só tenho falado mal de você, eu não mereço!

Notem que todas as pessoas tiveram a reação que eu queria quando comprei os presentes. Já em casa, liguei pra cada uma delas perguntando se aquele era o melhor presente da vida delas. Mais uma vez fui surpreendido.

Minha cozinheira falou que estava muito feliz, mas o melhor presente seria continuar trabalhando em minha casa. Minha mãe disse que também estava feliz, mas o melhor presente era que eu continuasse sendo seu filho. Minha ex-mulher disse que não se cabia de contentamento, mas que o melhor presente seria minha volta pra casa.

No fundo percebi que eu poderia comprar bons presentes, mas pra aquelas pessoas o melhor de todos os presentes ainda era eu mesmo.

Paulinho Boa Pessoa
Enviado por Paulinho Boa Pessoa em 20/12/2008
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