A Minha Voz
A Minha Voz
Hoje no ápice de mais uma crise pela manhã, estive conversando comigo, embora o grande tumulto dentro dos pensamentos, tento me concentrar na minha própria voz me chamando a tona, me recobrando a razão.
Parece, a primeira vista, uma ação tão boba, mas o fato é que penso que o meu cérebro consegue reconhecer isso como acolhimento, alívio.
Como qualquer outro remédio, que precisa do seu tempo para fazer efeito, assim também, é necessária paciência para que minha voz faça efeito e sobressaia no meio da desordem e caos.
É curioso pensar que tudo isso só foi possível porque inúmeras vezes eu quis buscar alguém para falar sobre minhas crises e por vezes não havia ninguém, ou só queria uma presença que pudesse compartilhar o silêncio comigo, mas me oferecesse a proteção para aquele momento. Ou, em outros casos, quando não conseguia identificar o gatilho da crise (o mais comum) e não adiantaria recorrer a ninguém.
É exatamente daí que a minha voz (falando ou em pensamento) começou a ser um remédio. O que parece loucura é exatamente o que oferece guarida pra meu transtorno. Pra ser mais claro, eu não sei justificar se isso realmente tem alguma base científica, nunca procurei. Mas penso, se um bebê ainda na barriga consegue identificar a voz da mãe ou do pai, mesmo sem saber quem são fisicamente e se acalma. Faz total sentido que a minha mente reaja da mesma maneira.
Eu estou aqui para mim, para além de todos os remédios e das possibilidades que existem e as tenho buscado nos últimos anos. É comigo que quero estar, é a mim que desejo todo bem, todo equilíbrio, todo um futuro. Por mais desafiador e desesperador que seja o agora, em hipótese alguma vou me omitir de vivê-lo "a vida é bonita, o aqui é bonito, sim, é".
Victor Cunha