Fragmento: COMPROMETIMENTO DOS SENTIDOS
Os dias passam e o silêncio parece ter mantido uma aliança com a minha percepção e atividade auditiva, que na atualidade já apresenta o comprometimento com nítido impedimento para captar precisamente os ruídos, sons...
Enquanto isso, a minha visão cansada, inesperadamente e até sem ter a quem buscar, observa no amplo mundo que está diante de meus olhos...
E ainda assim, com tantas vidas que tenho por referências conhecidas, no que engloba familiares, gentes amigas e conhecidas, mesmo havendo tantos contatos, apenas a solidão parece me ofertar em um abarco que direciona ao vazio, com a ausência de inúmeras pessoas que eventualmente e oportunamente poderiam conceder atenção para um vivente estarrecido, que aos dias, tomado pelo cansaço, sobrevive...
Aqui, sozinho estou ao presente vivendo esse momento solitário, a ponto de ouvir mesmo estando com o sentido auditivo comprometido, a minha atenção se volta e observo que a minha respiração já dificultada para o sublime ato de inspirar e expirar o ar, consequentemente e provavelmente em razão dos esforços e a contabilidade de minha existência, que inevitavelmente proporcionou essas mudanças que me desagradam de certo modo, ao constatar que a perda gradativa de minhas destrezas para as atividades na vida, onde coisas antes tidas por simples agora me apresenta um condicionamento limitado.
Nisso, uma liberdade de pensamentos sobre outras datas que paginaram minha vida, antes repletas por pessoas ao meu redor, gentes das quais, delas bem lembro em dias de glória, momentos de felicidade humana, mas o tempo avançou e muito mudou! As objetividades de cada qual parece que foi redirecionando vidas para outras linhas de ambientes e convívios, alguns perderam a existência ao longo do caminho, outras vidas nem sei o que buscam ou o que fazem...
Mas estou aqui, dado ao impiedoso ar da solidão, sentido ocasionalmente, o vento que se choca contra minha pele surrada por intensidades de dias acalorados de outras épocas... Quando vai aproximando o momento de iniciar a preparação de alimentos, eu os preparo, porém parece que nada dos mantimentos, nenhum dos suprimentos propiciam os sabores que preciso, pois falta algo essencial e minha capacidade sensitiva no paladar por alguma eventualidade estabelece o bloqueio para saciar a fome substancial... Logo acredito que tenho sim a fome e a sede, porém não é um fator de absorção de frutos que deliberam o senso de abastecer com substanciais necessários, mas sim a necessidade de pessoas para partilhar o alimento na panela, compartilhar na acessibilidade da água fresca para o consumo e percepção de que tenha um propósito além da mera implicação da solidão...
Longe de todos, vivenciando o que pese para a consciência com os fardos de minha solidão, a imaginação que parece ser estimulada por ares precipitados, entendimentos que formalizam conceitos nada bons, como se o abandono que me assola, eventualmente tenha sido algo semeado por minhas atitudes, cultivado por minhas ações, e em reações, as pessoas simplesmente me propuseram o afastamento, isolamento...
Um ar de tristeza parece emanar de minha alma, sufocada ainda mais com as emoções que ramificam a ponto de um senso à flor da pele, implicando no impedir que minha voz possa liberar um grito de socorro ao vazio diante de mim... Com a voz embargada, sentindo reações em praticamente todos os sentidos físicos, não consigo evitar que lágrimas brotem de meus olhos... Minha estrutura física trêmula com ausência de forças e equilíbrio, que me leva com a face por terra, onde em um ato de desespero clamo para forças ocultas a fim de que ocorra alguma eventualidade que encerre esse tormento, quer o fosse com sono profundo, sono permanente, abdução, vez que os tormentos proporcionados pela solidão, com a ausência de vínculos que estarrecem a minha essência, desestruturam os fundamentos de ser no ápice de minha durabilidade, existência...
Em um lapso precipitado de meu espírito que se via em associo, estimulado para a perda e ou impedimento da plenitude de meus sentidos, estando ali, abduzido, a minha essência tomada por cansaço, induzida ao sono, o que abriu margem para a acessibilidade e entrar no portal dos sonhos, numa versão paralela e preparatória, que bem percebo que é parte da escolaridade ao senso físico elementar e o espírito, sobre as fases do passar material da vida em abrigo físico, a desagregação dos compostos, a desarticulação do espírito, o impulso para outro plano...
Em sonhos, uma linha de percepção em atividades que bem pareceu estampar o entendimento de que a vida é abarcada por inúmeras etapas, onde as escolhas, inevitavelmente bem traduzem situações boas ou não, mas que as implicações são também revelações que aludem sobre os comportamentos, e tudo, absolutamente tudo são coisas da vida, que o importante é tornar ainda que tão somente espiritualmente, via pensamentos, a proximidade aos efeitos ocultos das forças da benignidade, isto para que o fim, quando for impelido contra a essência física, impondo o impulso para que ocorra o desabrigar o corpo e o ar liberto seguir, pois esse é o caminho para todo composto material que revele aos dias a manifestação da vida, que é temporária a toda referência... E tudo passa para as vidas que perambulam por sobre as superfícies nos cenários do mundo, porém enquanto isso ocorre, a preparação deve atingir um patamar no ápice da razão e degraus da objetividade existencial, entre ser um ser, agir e reagir, viver e conviver, construir e edificar, encenar aos dias, até que é o fim chegue...
A ênfase, durante a linha de encenação, se não houver a plenitude do atino a bem para situar a referência, ao tempo em que ela exista e permaneça focada ao propósito no seio da maternidade física, em que pese possa ser alcançada pelo abarco da loucura que não só torna a existência, sem propósitos plausíveis como também desagrega a essência de suas fundamentações, material e espiritual, canalizando o ser ao abismo dissonante entre ao sentido de ser e elevar a manifestação aos objetivos de sua criação, surgimento...
JGWelbor/CNS