O abismo do eu
A cada dia que passa estou cansado
Observo no espelho o mesmo rosto exausto
Passando pelas mesmas ruas e avenidas
Observo aqueles mesmos rostos cansados
Eu nunca pude perguntar para aquela angustia
Cê lembra a ultima vez que abraçou um desconhecido?
Você se lembra da ultima vez que deu um riso genuíno
Naquela calçada de avenida que fedia a urina
Os bares vendem escapes mais acessíveis que a biqueira
Mas não registraram meu vicio de dorflex e cafeína
Talvez esteja exausto do mesmo
Esses sete dias que se dividem em quatorze horas
Onde tiro cento e vinte minutos para fazer poesia
Os patrões controlam até quantas horas se dorme ao dia
Mas eu não entendo a prisão daquele que tentou tirar a vida
Colocaram mais uma prisão naquela mente perdida
Eram onze e quarentenas que eu me deixei quebrado
O amor hoje só é a angustia da ausência
Tenho saudades daqueles lábios que gemiam meu nome
Mas eu só pude sonhar com o colapso da eloquência
Encontrei perdida o ultimo traço de humanidade na lixeira
Me perguntaram o que faria com aquele falso sonho
Pude apenas chorar e aceitar
A humanidade perdeu seus traços
Pois preferem se cobrir de ouro e realidades virtuais
Logo a virtude de abandonar aquilo que o rotula unico
O irônico foi se rebaixar a um mero seguidor que sonha que a luz do holofote brilhe em ti
Somos todos baratas, baratas e porcas
Onde revira lixo de falsas celebridades que cospem em sua face
E vem apenas suas fotos estampadas nas camisas
E um louco capaz de te dar o bem mais precioso que é a vida por um pingo de atenção
Somos idiotas dependentes de um idolo
Carentes de uma imagem para adorar
Onde nosso maior medo é a cegueira
Mas nos vemos cegos em meio a tanta sujeira
Quem sabe a morte exploda esse tumor
E acabe com essa imagem do eu
Pois já passei a me odiar desde a primeira linha
Que fui tolo em acreditar que o que escrevia era poesia
Bem vindos ao meu abismo do pensar
Onde encontrei a ausencia do afeto ao próximo
E comecei a desver os moradores de rua
Minha ignorância chegou até mim
E feito criança chorou sem fim
A massacradora cultura que cultua si mesmo a cima de tudo
Que beira a loucura de encontrar-se empático
O suficiente para igualar você ao próximo
E estender sua mão sem medo de sujar-se de lama
Mas ainda é irônico esse medo
Pois tanto lava as mãos ao tocar o caridoso
Mas nem sequer se importa de tacar merda nas calçadas
É, somos hipócritas.