Laços amarelos
Um dia após a minha morte, era a primeira manhã recepcionada pelo vento frio do inverno de agosto, o velório já havia acontecido.
Assim que entrei em meu quarto vi minha mãe chorando e se perguntando o motivo de tudo, sua dor e sofrimento exalava por todo o cômodo envolvendo o clima daquele lugar com uma aura negra.
Vi meu pai sentado na sala, chorando com o peito explodindo de dor, eu sabia que o que eu fiz machucou ele, talvez até o destruiu para sempre. Mas será que ele também sabia que havia me machucado todos os dias durante todos os anos da minha vida?
Então tudo parou, parecia estática de TV antiga. E eu ouvi aquilo saindo da boca dele, "Me perdoa filha, eu tinha muito orgulho de você", meu coração entrou em choque, mas eu não sabia que os mortos também podiam chorar.
Eu sai caminhando pela rua, pelo bairro aonde cresci. Passei pela casa do menino que eu amava. Pela igreja que me batizou. Pela casa das minhas amigas, aonde elas se trancaram em seus quartos se recusando à sair, se recusando à viver.
18 anos que passeei por aquele bairro e nunca o vi tão quieto, tão frio. Mas eu não poderia mais culpar o inverno.
Do que adiantava mais? Meu corpo já estava frio e minha alma condenada.
Todas as palavras que ouvi naquele dia poderiam ter impedido o destino, mas eu já estava morta. Os mortos podem chorar, mas eles também podem amar?
Dois anos após a minha morte, apenas restaram vestígios meus. Laços amarelos espalhados pelas casa, por mais sem vida que ela parecesse. Tchaikovsky tocava no rádio, por mais baixo que o som fosse. Havia um quadro pendurado na sala, "Judite e Holofernes" de Caravaggio, por mais macabro que aquilo fosse . Meu pai ainda comprava suco de uva, por mais que ele odiasse aquele cheiro. Minha mãe ainda visitava o centro histórico, por mais teimoso que fosse clima.
E eu ainda estou aqui, vivendo esse pesadelo. Eu não morri ainda, mas minha mente ainda me faz questionar as consequências desse ato.
Ame, antes de seja tarde demais.