Um dia, conheci um professor de filosofia e poética, palestrante no Instituto de Artes, enquanto descansava o almoço em um dos corredores. Sentada com uma prancheta papel e caneta, rascunhava um poema,  e, ao lado, uma pasta catálogo que continha todas poesias que havia publicado no site Judô e Poesia, de Belo Horizonte.

 

A capa da pasta chamara a atenção do professor, pela linda figura de um Pierrot, em preto e branco.

 

Em voz baixa me disse:

- Não quero atrapalhar, mas a gravura atraiu-me pela beleza.

 

Expliquei sobre o que tratava e parei de escrever a poesia, para mostrar o catálogo.

 

Ele me disse:

 

Você tem mais periódicos publicados para mais de cinquenta países através deste site, que sei muitos dos escritores da Academia Brasileira de Letras não os têm. Isso torna seu currículo invejável.

 

Então disse em resposta:

- Quem dera que outros escritores de renome donos de editoras, pensassem como você.

 

Embora muito conhecida no exterior, tenho lutado por uma oportunidade em meu próprio país.

 

Calmamente, abriu sua pasta e me deu um Livro: A Importância de Compreender, sob a forma de versos e pensamentos filosóficos, abordando as especificidades do ser humano.

 

E então recomendou:

- Leia com atenção, A Canção das Metades.

 

E sei que, um dia,  verei a beleza de seus livros publicados.

 

Aquele texto me deu uma energia para continuar lutando pelo meu sonho de apenas escrever. E agora o transcrevo para vocês conhecerem.

 

 

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A Canção das Metades - Li-Mi-an
 
Esta é a mais sadia, mais amadurecida filosofia de viver compreendida num só poema que conheço, embora também saiba que é das mais exasperantes para os partidários dos cem por cento.
 
Até agora, a maior metade atravessei
desta vida flutuante – eis a palavra mágica:
esta "metade", tão repleta de sentido,
pois nos veda provar alegrias além do que podemos ter!

 

A metade da vida é o período melhor a que alguém chega,

quando sabe andar devagar e, assim, anda em sossego.
Vasto mundo terás meio entre o céu e a terra;
mora a meio caminho entre a cidade e o campo,
tem lavouras a meio entre rios e montanhas;
sê meio intelectual, meio fidalgo e meio comerciante;

vive em meio aos que são nobres,
mas em meio também do povinho comum.
seja tua casa, meio ornada, meio nua;
tuas roupas sejam meio antigas, meio novas;
as refeições, triviais, mas meio epicuristas.
Tem criados não muito astutos nem estúpidos;
mulher não muito feia e nem bela em excesso.

Sinto em meu coração que, assim, sou meio Buda.

quase meio espírito taoísta.


Metade do que sou ao Pai do Céu devolvo
e a outra metade deixo à minha descendência,
meio pensando em tudo o que é mister prover
para a posteridade, e meio preocupado em como

responder a Deus, depois que o corpo afinal repousar.


É mais destro em beber quem só meio ébrio fica,
E a flor a se entreabrir mais linda se revela;
Mais firme é o navegar do barco à meia vela;
Melhor trota o corcel de rédeas meio presas.
Quem tem meios demais, soma-lhes ansiedade;
quem de menos os tem, ganha sabor de posse.
Como a vida se faz de doçura e amargor,
Quem só a metade prova é mais arguto e sábio.

 

Extraído do Livro a Importância de Compreender – Lin Yutang

Maria de Fatima Delfina de Moraes
Enviado por Maria de Fatima Delfina de Moraes em 05/03/2022
Reeditado em 06/03/2022
Código do texto: T7466124
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