O ato de contar história I

Saudade de mim assim, desse eu de mim que tenho tanto tesão.

Dessa máscara tão mal feita, mas de palavras e emoções tão verdadeiras, saídas do mais profundo subjetivo que sou eu.

Essa é a porção ocupada de mim que acredita que as mentiras das ficções são mais tesudas que as verdades verdadeiras dessa vida tão arteira.

Nesse eu, eu me desligo do real, passo para o infinito e me torno impessoal, arredio, galanteador, contador-personagem ou contador onisciente das coisas mais tenebrosas e amargars e algozes e doces que alguém é capaz de criar/inventar/dizer/transformar só para arrancar um sorriso.

Porque a fantasia do real, para mim, é como se fosse um saco de algodão doce que a gente come lambuzando os dedos e os lábios, depois lambe o açúcar pregado no saco, depois lambe os lábios e depois lambe os dedos e acaba esquecendo o que disse, o que fez, o que viveu, mas que a vida não para. Para ela, a coesão é apenas um detalhe.

A vida é mais prazerosa que a escrita de um parágrafo perfeito.

Saudade das palavras na ponta da língua e a alegria de viver sorrindo para mim.