APENAS UM CORPO
Francisco Alber Liberato
Somos apenas um corpo
Multifacetado
Cheio de incoerência
Que carrega uma indumentária
Que carrega uma chita, uma seda
Que carrega uma estampa
Que carrega um rótulo
Que carrega uma mácula
Um corpo que carrega outro corpo
Que carrega uma alma
Que carrega outra alma
Que carrega outro corpo
Somos apenas um corpo
Que carrega um tergal
Uma camisa volta ao mundo
Volta ao terno
Somos apenas um blazer
Uma jaqueta, um suéter
Um casaco de inverno
Uma caixa de papelão.
Um corpo que dá voltas, e volta
E volta ao mundo
E sai da órbita
E volta ao corpo
Somos apenas um corpo
Aparentemente intacto
Analfabeto, intelectual
Humilde ou arrogante
Somos apenas um corpo
Que achamos que somos
Muita coisa
E que nada somos
Um corpo vagando
Se achando
Eterno, com terno
Sem terno, efêmero
Um corpo dentro de outro corpo
Fora de outro corpo
Marcado por um corpo
Que é marcado por outro corpo
Somos um corpo que carrega
Arrogância, prepotência
Vestal das sobras
Que carrega
Sua etiqueta ou elegância
Sua grife ou seu papelão
Flexibilidade ou intolerância
Acabam na mesma direção
Um vestido de cetim
Rio que chegou ao fim
Somos apenas um corpo
Dilacerado que carrega
Outro corpo dilacerado
Que carrega uma mortalha
Que carrega, que carrega ...
E que um dia será carregado.