APENAS UM CORPO

Francisco Alber Liberato

Somos apenas um corpo

Multifacetado

Cheio de incoerência

Que carrega uma indumentária

Que carrega uma chita, uma seda

Que carrega uma estampa

Que carrega um rótulo

Que carrega uma mácula

Um corpo que carrega outro corpo

Que carrega uma alma

Que carrega outra alma

Que carrega outro corpo

Somos apenas um corpo

Que carrega um tergal

Uma camisa volta ao mundo

Volta ao terno

Somos apenas um blazer

Uma jaqueta, um suéter

Um casaco de inverno

Uma caixa de papelão.

Um corpo que dá voltas, e volta

E volta ao mundo

E sai da órbita

E volta ao corpo

Somos apenas um corpo

Aparentemente intacto

Analfabeto, intelectual

Humilde ou arrogante

Somos apenas um corpo

Que achamos que somos

Muita coisa

E que nada somos

Um corpo vagando

Se achando

Eterno, com terno

Sem terno, efêmero

Um corpo dentro de outro corpo

Fora de outro corpo

Marcado por um corpo

Que é marcado por outro corpo

Somos um corpo que carrega

Arrogância, prepotência

Vestal das sobras

Que carrega

Sua etiqueta ou elegância

Sua grife ou seu papelão

Flexibilidade ou intolerância

Acabam na mesma direção

Um vestido de cetim

Rio que chegou ao fim

Somos apenas um corpo

Dilacerado que carrega

Outro corpo dilacerado

Que carrega uma mortalha

Que carrega, que carrega ...

E que um dia será carregado.

Alber Liberato Escritor
Enviado por Alber Liberato Escritor em 22/07/2020
Código do texto: T7013726
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.