LEVANTAI-VOS DA VOSSA MADORNA

LEVANTAI-VOS DA VOSSA MADORNA

Vez por outra a humanidade num todo recebe uma sacudida, seja por grandes catástrofes, seja por doenças, ou mesmo grandes feitos. Interessante observar que essas coisas estão servindo apenas para aguçar a curiosidade e estupefação. Mesmo que esteja sempre implicando com a existência humana, parecendo que o homem tem vivido uma hibernação espiritual. É claro que não precisamos ser apocalíptico para fazer acordar a todos de sua sonolência. Diferente de outras épocas, nesses dias, depois dos mosquitinhos – um pernilongozinho pintadinho – veio a Zica, chicungunha e dengue – todas com capacidade para matar. Como se não bastasse, vem o CONVID 19 – arrasador, matando rapidamente, embora digam que o vírus é fraco, morre fácil. Ora, se morre fácil, também está matando com facilidade – por isso, agora declaradamente uma pandemia.

A despeito do fato de as palavras deste tema dizer respeito, particularmente, a pessoas não preocupadas com a sua relação espiritual, vivendo como se fossem pequenos deuses – comandando o mundo, cada um do seu jeito – como se eternos, indestrutíveis, ou sem uma finalidade na sua existência. Compulsando dos textos Judaicos, Maiomônides, de uma das citações, se diz: “...o toque da trombeta, no começo do ano, tinha certo significado que era como se dissesse: ‘Despertai, vós que dormis’, e vós, que dormitais, levanta-vos de vossa madorna e pesquisai as vossas ações, retomando ao arrependimento e relembrando-vos de vosso Criador”.

Oportuna reflexão para este momento no mundo, estamos sendo lembrado de uma relação de vida e morte – do temporal com o eterno, por que não? Porventura, os fatos não se relacionam com a nossa casa, a nossa existência? Para o apóstolo Paulo, a mesma relação na sua advertência aos cristãos de Éfeso: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”. Ele estava se referindo ao viver em trevas em relação à luz, que no dizer do versículo, nos parece, no intuito dessa expressão, pelo que também disse Crisóstomo: “A luz da tua vida cristã, que será a tua reprimenda derrama sobre esses feitos das trevas, haverá de leva-los à categoria da luz, tirando-os das trevas.” (Com. RN. Champlim, vol.IV – Efésios 5.14)

Não fomos criados à imagem e semelhança de Deus para apenas assistir aos espetáculos da natureza, à estupefação da tecnologia, ou mesmo o isolamento de nossa inteligência para ser capaz de entender o mundo em que vivemos, entender as transformações ao tempo do distanciamento com o Criador. Esse homem fantástico, criado para ser a glória de Deus, perde a cada dia o reflexo da imagem com o Criador. Todavia, o Deus Criador, construiu a sua obra, e dela cuida sem dormir e sem descansar. Há sempre a esperança de um retorno para Deus, permitir que Ele governe a nossa vida livre, aprisionado tão somente por Seu grande amor. Lembrando sempre: “a minha liberdade é a minha prisão.” Ser livre não quer dizer ser libertino; ser livre dentro dos limites da liberdade outorgada – de onde procedem: respeito, dignidade, submissão, glorificação e adoração ao único a quem desde o início requereu de sua criatura uma resposta essencialmente espiritual. Deixa, portanto, a sua sonolência e acorda para a vida, mesmo que a morte esteja à sua porta. O Corona Vírus pode ser a sua trombeta – somos mortais, importa que estejamos acordados para entender o que é a vida em relação à eternidade.

Verão de 2020

Paulo Florêncio e Silva