Pra você mesmo: a dor de escolher
Não é fácil abandonar os tempos, que mesmo sofridos, tenham sido vividos com intensidade.
Mas é preciso se respeitar. Reconhecer o que devemos aceitar ou não como preço para viver certas emoções e sentimentos.
A decisão de quem opta pelo que reconhece como o mais certo é difícil. O amor ou paixão não deixam de existir por causa disto. Somos obrigados a fazer escolhas: não podemos culpar o amor ou culpar nossa dignidade pelas escolhas que fazemos. Em ambos os casos a escolha é colocada: o amor, mas o desrespeito ou a dignidade e abrir mão de uma história.
A escolha tem seu preço. O "tudo poderia ser diferente" é só uma promessa e uma possibilidade tanto quanto de nada mudar ou piorar. Não há determinismos, não há uma âncora a qual podemos acusar de nos obrigar.
O passado e o futuro andam juntos, por que no primeiro se sonhava o segundo. E por algum tempo só resta o passado e um futuro que não mais será.
No final o que resta é construir um novo futuro, que talvez seja ou não melhor ou mais belo que o anterior. Mas nisto não há escolha: é preciso sonhar, mesmo que o presente apresente um passado tão hostil ao florescimento dos sonhos.
Poder escolher não quer dizer poder escolher entre tudo. O mundo restringe nossas escolhas, muitas vezes de uma forma sádica.
Dizem que nestas escolhas, nos definimos, com certeza. Pois encaramos a necessidade de priorizar e nem tudo pode ser priorizado ou vivido ao mesmo tempo. Talvez os sonhos nem se repitam com a mesma intensidade ou talvez sejam de outra ordem, mas independente disto a escolha dolorosa por aquilo que se acredita também promove o encontro com o que se é de verdade - e as vezes isto pode ser extremamente doloroso.
Existe uma dura verdade que os relacionamentos amorosos nos mostram de forma intensa e claramente didática: as coisas não são obrigadas a serem como queremos, somos impotentes diante de muitas coisas. O sofrimento é encarar nossa impotência, nossa dificuldade de impor outras alternativas e a obrigação de escolher entre o que o mundo oferece.
As vezes é outro que não quer mais. E se oferece um grande amor, algo possivelmente irrecusável para o outro, mas ele recusa. As vezes outro mesmo ainda amando, não quer. O outro também escolhe contra a nossa escolha e isto implica muitas vezes em cada seguir seu caminho divergente do outro.
O sofrimento é o reconhecimento de que somos menos poderosos do que imaginamos e tudo o que sonhamos lastreados nesta "prepotência" se desaba ou se distancia do nosso horizonte quando a realidade nos mostra com todas as letras o quanto realmente podemos, pelo menos naquele momento.
Aí pensamos, sofremos ainda por causa do outro ou por causa de nós mesmos ao encarar nossa impotência diante da vida? Por que disto depende tudo que sonhamos ainda ou ainda vamos sonhar - que é reconhecer o quanto de fato podemos.
É como se o "Eu" antes confiante em sua própria potência fosse atingido letalmente e em seu lugar surgisse outro "Eu" - menos poderoso, mais frágil e menos a altura dos sonhos que temos ou poderemos ter.