E quando o luto vem acompanhado por um sentimento de culpa

Quando perdemos um ente querido muito próximo, a quem amamos muito passamos por um período de grande sofrimento, algo tão forte e impactante que pode inclusive ser um divisor de águas na nossa história de vida,e isso independe do grau de parentesco ,um afilhado, sobrinho, amigo de infância, terá o mesmo impacto da perda dos pais,de um filho,de um irmão. Existe um estudo que aponta que o luto emocional tem cinco fases bem pontuais,que duram em média de 6 meses à um ano, são elas : negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Esses seriam os principais processos pelos quais passamos desde a notícia da morte até o ponto em que nos damos conta de que a vida segue e precisamos reagir,em alguns casos reaprender a viver. Na prática entretanto não é tão simples assim,a dor é algo muito pessoal cada qual tem seu próprio tempo,não podemos fazer nenhum tipo de pressão e cobranças porque só pioraria a situação. E quando carregamos algum tipo de culpa,peso na consciência, remorso por algo que ficou pendente entre nós e nosso amado ente querido então a questão fica ainda mais difícil e complicada. Tive várias perdas na minha vida,mas nenhuma tão marcante quanto a perda da minha mãe. Ela adoeceu justamente numa fase em que eu trabalhava como professora de dança e teatro em 8 escolas diferentes e quase não tinha tempo para dar atenção à ela do jeitinho que ela merecia,eu não tinha idéia da gravidade da doença dela,e muitas vezes ela é ligava dizendo que tinha feito almoço me esperando para almoçar com ela,naquela época eu não tinha carro e a casa dela era muito distante de onde eu trabalhava e infelizmente não era possível ver minha mãe na hora do almoço, quantomais almoçar. Quando ela morreu isso me trouxe um peso na consciência, um sentimento muito ruim de culpa,me sentia muito mal por ter desperdiçado preciosos momentos com ela,cheguei à um ponto em que quando ia almoçar ficada muito triste que nem conseguia comer. Esse sentimento de culpa me acompanhou por muito tempo e meu luto se estendeu por muito tempo, não saia,não sorria,não aceitava que ela tivesse partido. Eu era uma bem sucedida professora com vários projetos e de repente me vi não conseguindo dar aulas,eu sempre tão alegre e com um astral lá em cima perdi a vontade de tudo. O meu processo de recuperação da minha rotina foi lento,doloroso e só foi possível transformar essa situação quando eu me perdoei,quando fui capaz de entender que mesmo quando eu não estava disponível para estar com ela eu a amava, exatamente como quando duas pessoas brigam o fato de estarem brigadas em nada diminui o amor,podem estar magoadas e feridas mas o que sentem não se diminui. Assim o sentimento de culpa, remorso não tem uma razão para existir,não podemos nos deixar levar por tais sentimentos, eles causam um atraso grande na nossa vida,são uma ferida aberta que jamais saram, porque a culpa sempre vai nos atormentar e causar angústia e tristeza. E com certeza a pessoa que tanto amamos não aprovaria esse nosso comportamento, tenho certeza absoluta de que se pudessem se comunicar conosco diriam que está tudo bem, que não guardam rancor,mágoas por qualquer motivo. Quando chega a hora de partir seremos recolhidos por Deus numa energia de amor muito profunda e nenhum sentimento negativo levaremos junto,daqui levaremos apenas o amor que distribuímos, as boas ações que fizemos,e aos familiares que ficarem saberão que não levamos tristezas e lembranças ruins, só ficarão as boas memórias e lindas lembranças do amor compartilhado