O Arco de Khalil Gibran
Um dia foi escrito: Antes de qualquer outra coisa: Mãe!
Feliz a mãe que aprende, se transforma e se auto edifica durante o empenho em educar, orientar, proteger e amparar.
Toda árvore tem seu tempo de crescer, tornar o caule robusto, esticar galhos, florescer, frutificar e espalhar sementes. Cada coisa no seu tempo, a ansiedade do agricultor não altera a época da colheita... não altera!!! As frutas amadurecem no seu próprio tempo. E cabe a árvore esperar, sem, contudo, deixar de ser árvore.
Ainda observando a sábia natureza, notamos pássaros ao bicar seus amados e bem cuidados filhotes para que deem seu primeiro voo. Mamíferos que em dado momento não compartilham mais amistosamente sua caça com a cria já orientada sobre a necessidade de se alimentar, a fim de que aprendem a providenciar sua própria refeição ou participar da atividade de prover o grupo. Humanos tão especiais criam teorias de amor, proteção, apego ou posse, numa velada tentativa de controle, contrariando a ordem ditada pela natureza essencial.
A cada um pertence sua própria vida. Os filhos possuem a sua e aos pais também (nem tão óbvio). Exceto em situações em que não há plenitude de saúde ou capacitação, em algum momento o desmame é necessário ou inevitável. Para alguns dolorido, para outros: libertador, para alguns de forma ingrata, para outros de forma gradual, aceitemos a individualidade de cada ser. O vínculo, se estabelecido, é eterno: O AMOR, A UNIÃO, O CUIDADO E O RESPEITO. Isso constitui a família, base ou sustentáculo para cada membro.
Não é possível ( tampouco necessário) reescrever a própria história, no entanto é saudável passar a escrever de uma forma diferente:
Antes de qualquer coisa: Uma pessoa como todas as outras!
FILHOS
Então uma mulher que segurava um bebé contra o peito disse: «Fala-nos dos filhos.»
E ele disse:
Os vossos filhos não são os vossos filhos.
São os filhos e as filhas da saudade que a vida tem de si mesma.
Eles vêm através de vós, mas não a partir vós,
E apesar de estarem convosco, eles não vos pertencem.
Podeis dar-lhes o vosso amor, mas não os vossos pensamentos.
Pois eles têm os seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar os seus corpos, mas não as suas almas,
Pois as suas almas habitam na casa do amanhã, que não podeis visitar, nem mesmo em sonhos.
Podeis esforçar-vos para ser como eles, mas não procureis torná-los iguais a vós.
Pois a vida não anda para trás, nem se demora com o dia de ontem.
Vós sois os arcos dos quais os vossos filhos são lançados, quais flechas vivas, para diante.
O arqueiro vê o alvo no sentido do infinito, e Ele dobra-vos com a Sua força, para que a Sua flecha voe veloz e para lá do longe.
Deixai que a mão do arqueiro vos dobre como se desenhasse um sorriso;
Pois assim como Ele ama a flecha que voa e vai, também ama o arco que é firme e fica.
Khalil Gibran, in 'O Grande Livro do Amor