O preço da traição: raízes, cicatrizes, sonhos roubados, histórias

Já faz tempo que eu venho criando coragem para te contar um segredo. Estou querendo me juntar a você para aumentar o meu amor próprio. Na verdade eu preciso desabafar. Estou tentando sair de um mundo de ilusão e de mentiras que um dia, mesmo sem querer, acabei me envolvendo. Hoje eu me sinto mal por isso. Tenho nojo e me culpo.

Eu conheci o Paulo, o vi uma única vez. Antes dele roubar a minha inocência. Desse dia em diante ele criou um mundo de sonhos em minha mente. Uma vida perfeita, uma vida que eu desejava. Ele criou e me deu de presente. Eu não sabia que ele era casado e acabei me deixando levar por meras palavras. Eu acreditava que meus sonhos estavam todos ali, perto dele. Viajar conhecer várias partes do mundo. E porque não conhecer cada parte deste mundo?

Ele vivia fazendo isso. Cada dia me dizia que estava em um lugar. Livre feito o vento. Voando como um pássaro e pousando em árvores. Esse era meu sonho. Então, eu fui me permitindo viver. Suas palavras me transmitiam verdades. Acreditei que estivesse amando, acreditei que era amada e que a outra, ou melhor, você – a esposa- era acordo de trabalho. Muitos brasileiros fazem isso quando vão para outro país. Casamento de contrato. Essa era a ideia que ele me passava. Existia um carinho, um cuidado. Mas amor de homem para mulher, esse sim era o nosso caso.

Ele me fez acreditar nisso.

Isso ainda me dói. Isso ainda me machuca pelo fato de ter me deixado levar por tal situação. Pelo fato dele ter se aproveitado de mim. Eu vivi dois anos assim, em um “AMOR” distante e deixando o meu sonho ser roubado. Eu estava com um véu. Ele tampou meus olhos para a realidade. Eu me tranquei nesse desejo de viver um sonho. De ser feliz com alguém que também sonhasse comigo. Nós sonhávamos juntos. Mas foram apenas palavras. Foram apenas roubo de um conceito, de um ser inocente com muitos sonhos e desejos.

Eu acreditei que amei. Mas eu amava o sonho que ele roubou de mim.

Quando de repente, depois de tanto tempo roubando tudo que conseguia levar: Sonhos, desejos, vontades, esperança, carinho… Amor próprio. Ele também levou o meu amor próprio, sem que eu percebesse. Levou tudo de mim. Fiquei desfalecida, desprotegida e desorientada. Tirou o meu chão, a minha paz e a minha fé.

Ele sugou todo o meu ser, assim que me viu. Arrancou o meu brilho. Antes eu achava que ele me dava o brilho, mas esta não era a realidade.

Foi tudo ilusão, uma fantasia. O meu sonho ele roubou. Eu ainda me culpo por isso. Quanta dor eu senti! Ver a minha vida jogada ao chão.

Nada foi amor, foi apenas um roubo de um sonho de infância.

Sabe quando a gente sonha que vai encontrar alguém perfeito que entenda e voe junto com a gente pelo mundo sem fim? O meu príncipe queria voar com minhas asas. Ele não era anjo e não sabia andar sozinho. Por isso que passava a ideia de um casamento de fachada.

Ele queria voar, mas nunca criou meios para isso. E andava voando no voo dos outros.

Só que ao arrancar minhas asas e pegar o meu voo a asa do outro lado, que também não era dele, se partiu. E o príncipe não virou sapo, ele era um sapo querendo ser Rei.

No chão, na lama, no desespero, na culpa. Na culpa dele e no encargo que ele me fez carregar. A história dos meus sonhos morreu. Meus pensamentos morreram.

Arrancou o meu amor e matou com o próprio engasgo. Pisou em mim, nas minhas ideias. Elas já não serviam mais, eu já não tinha mais nada a oferecer. Tudo já tinha sido roubado.

Casamento desfeito. O amor nela e em mim se apagou, morreu. Foi tudo ilusão, com ela e comigo.

Eu também estava casada, com o sonho que ele roubou para mim. Roubou meu sonho de mim e a mim mesma queria me dar.

Tudo se apagou. Passamos a viver na escuridão. No poço, na lama, no chão. Na ilusão que ele criou em nós.

Mas meu sonho e o meu amor ainda vive. O dela também. Não verdade, o que morreu foi à utopia dele criar um mundo que nunca foi seu. Ele tentou criar e viver e matar os sonhos dos outros.

Mas em mim ficou a semente. Nela também. Semente da verdade em saber que em nós ficou a raiz e a cicatriz de viver por nós e não pelo sonho que se rouba de alguém.

Eu e ela acordamos e vivenciamos o nosso amor em nós. O nosso sonho ainda vive, pois temos a certeza de que o alicerce bem construído fica difícil derrubar. As nossas asas nos permitem voar, mas se alguém tentar pousar em nosso voo elas podem quebrar. Em nós hoje só resta amor. Amor, o próprio. Nele resta a falta de dignidade e o preço pago pelos sonhos roubados.