PARA ALÉM DA MORTE

As pessoas esperam a chegada da morte para serem boas. Esperam a chegada da morte para perdoar. Esperam a chegada da morte para reconhecer o valor de alguém ou mesmo o seu próprio valor. A morte é o divisor de águas capaz de mudar tudo realmente. E mesmo sabendo que somos todos mortais e, portanto, finitos ainda não nos demos conta de que a morte é o fato mais preciso e evidente em nossa existência. Mesmo assim, adiamos indefinidamente aquilo que é urgente. Talvez, porque seja muito difícil lidar com as subjetividades que envolvem o ato de reconhecimento e de autorreconhecimento de nossas fragilidades. Saber-se frágil é uma coisa. Reconhecer lá no seu íntimo que você falha, julga mal, cria situações desagradáveis e quase sempre fere é até possível. Mas, verbalizar isso para alguém, mesmo que seja a único meio capaz de colocar as coisas no lugar certo parece demais. Tão demais que somente a morte pode testemunhar os dias que se seguirão a esse feito. Ou seja, investimos mais na morte que na vida. Se investíssemos na vida, viveríamos mais focados na nossa finitude e dessa forma faríamos melhor as nossas escolhas. Não procrastinaríamos na tomada de decisões que podem mudar vidas, inclusive a nossa. Se investíssemos na vida, valorizaríamos o sim em detrimento do não. Agiríamos conforme a real necessidade de restabelecer o bem para dele gozar bem aventuranças ainda no presente. Não deixaríamos ninguém partir sem ouvir o que precisa ouvir antes de partir realmente. Acertaríamos nossas finanças emocionais para partirmos leves, sem cargas impossíveis de serem levadas ou pesos inúteis a serem carregados por outros.

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 05/05/2017
Código do texto: T5990534
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