Vida que segue

Admiro muito aquelas pessoas que aparentam ter certeza de quase tudo. Admiro mesmo, aliás quase as invejo. Eu sei que essa palavra é mal vista por muitas pessoas, mas vou com ela mesmo. Ela fala mais despudoradamente do que sinto. Sinto inveja.

A certeza é tão contraditória à vida, que deparar-se com alguém seguro de que tudo sairá como o previamente desejado, me deixa perplexa. Não que não seja possível, vez ou outra, dar um tiro no alvo, mas acreditar que sempre será assim é até ingênuo. Taí, deve ser por isso que admiro essas pessoas, elas são como crianças que acreditam que podem voar...

E podem. Em certa medida podem, sim.

Mas, seria tão mais fácil se a gente aprendesse que nem tudo será como esperamos, seria menos sofrido se aprendêssemos a perder e, que esse perder pudesse ser ressignificado, pudesse ser transformado em outra coisa que não fosse exclusivamente, dor.

Seria tão perfeito se pudéssemos nos perdoar primeiro, subvertendo àquela “lei da visita, ” lembra-se? Onde tudo de melhor era para as visitas, para os mais velhos. Sempre para os outros e nunca para nós mesmos.

Se pudéssemos compreender que a vida é uma só e não nos permite ensaios ou retomadas e, portanto, de acordo com essas regras, nossos erros, nossos pecados e vacilos poderiam ser compreendidos e perdoados com mais generosidade.

Generosidade. Essa palavra poderia ter sido a nossa bússola desde a infância. Nossos pais poderiam dizer no resumo de todos os conselhos, algo assim: “...mas no final, seja generoso com você e com os outros. ” Ou seja, dê um voto de confiança a você, procure entender o descaminho do outro, pois por trás de cada erro, de cada tropeço, existe uma história que foi negligenciada.

Mas, a sociedade insiste na reiteração da dor por meio da punição. É preciso deixar o outro sofrer, angustiar-se, perder o senso, perder o prumo, perder a vida, quem sabe? Afinal, é assim que se aprende, não é? A dor tem que percorrer nossos caminhos. E, os conselheiros de plantão sempre estarão por lá dando “dicas e gabaritos” de como se dar bem e ser feliz. Mas...o que é mesmo ser feliz?

E eu só consigo lembrar de um pensamento que me ocorria sempre que alguém me orientava a lutar pelo homem da minha vida; eu pensava no depois, em como me sentiria quando me desse conta da energia gasta para empreender tal conquista. O fato é que resolvi gastar minhas forças noutros projetos.

E, sei lá, posso até estar errada, mas para mim, o certo é o que flui, sem forçar. Não deu, não deu. Vida que segue.

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 01/07/2014
Reeditado em 01/07/2014
Código do texto: T4865121
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