DO LIVRO DA VIDA
42)Tenho observado que os velhos pescadores vão diariamente ao mar, nas calmarias e nas tempestades. Nos dias navegáveis tripulam suas embarcações e se lançam às ondas na certeza de que lá ,após a rebentação, encontrarão o silêncio que reanima suas almas e os frutos que manterão por mais um tempo os seus cansados corpos. Nos dias em que o tempo não está para se aventurar ao largo ficam, na beira, olhando o ir e o vir eterno das ondas, como se encontrassem neste fluxo as respostas para os mistérios da vida. O que me chama a atenção, nos velhos pescadores é a capacidade natural de se confundirem com a imensidão do mar lançando seus olhares e seus anseios para o infinito das águas e ficarem ali, como se fossem uma extensão delas. Um prolongamento das marés, uma onda que ficou prisioneira em um cômoro mas, continua sendo uma parte viva do oceano. O que me chama a atenção e me comove é a total entrega que estes velhos pescadores fazem, de si , para o mar que os alimenta e os energiza. É como se fossem da mesma natureza e ao entender o mar, me parece que entendem a si próprios e este entendimento, esta compreensão tranquiliza as suas mentes e torna leves os seus semblantes e, eles, ao decorarem o universo de seus silêncios com algum sorriso parece-me que estão escrevendo um tratado de filosofia, de arte, de amor e de paz.