CARTA AO MEU MARIDO E FILHOS

"MORRER VELHO OU NOVO"

Meu amor(marido)Meus amores(filhos)

Escrevo de mim antes de envelhecer

Tudo o que sai de mim voa, para o papel

Tudo vai-se, tudo esvai-se, permanece talvez só meu

Nada em mim fica, do que vocês já não amem

Meus amores, um sorriso cultiva tantas vezes

O silêncio gentilmente disfarçado

Num poema triste de palavras minhas

Do teu silêncio ou silêncio nosso

Por isso quando o meu corpo estiver cansado

Talvez já cansado de mim, meus amores

Na minha modesta velhice

Deixa-me ser criança ainda que não aches graça

Deixa-me falar, ficar rabugenta

Zangada comigo e com a vida, tenho esse direito

Quando não quiser falar

Deixa-me com o meu silêncio, com os meus botões

Respeitem a minha vontade, pois apesar da velhice

Talvez a minha memória esteja boa, ou não

Eu nunca me importei com o que as pessoas pensam

Não é agora que me vou importar

Não tenham vergonha de andarem comigo

Deixem-me ser criança

Apesar de ser velha devo ter uma alma irrequieta

Não me deixem sozinha, mas gosto de observar-vos

Sempre gostei de vos ver à minha maneira, tão minha

Observar-vos era e é para mim uma bênção dos céus

Sejam amorosos comigo, quando eu começar a dar mais trabalho

Pacientes como eu fui com vocês, meus amores

Todos vamos chegar a ser velhos

Se não chegarmos é porque morreremos novos

Será melhor morrer novo ou velho?

Espero que Deus seja bom na minha escolha

Se não mais uns anos nos espera, nesta velhice já anunciada.

Isabel Morais Ribeiro Fonseca
Enviado por Isabel Morais Ribeiro Fonseca em 29/11/2020
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