Duas Marias e algumas interrogações da minha parte

O relato a seguir se refere a duas senhoras – já falecidas -, que talvez querendo me dar um norte me livraram da sorte, ou da morte. Abro um parênteses para lembrar que não escrevo na primeira pessoa, mas essa história deve ser registrada.

O encontro com a primeira Maria foi em um evento matrimonial e não lembro por quem fomos apresentados. Ela Iniciou o diálogo com o pé no acelerador revelando que era viúva e aconselhou-me a ficar desconfiado quando alguém me elogiasse. – “Olhe firme nos olhos da pessoa e não fique de boca aberta admirado com que está ouvindo. E não esqueça: quando aparecer um tubarão suba na primeira palmeira que encontrar e aproveite seu patrimônio hormonal”.

Como a morte de seu marido não ficou explicada, não tive coragem de lhe dizer que tubarão só tem no mar; e palmeira em terra firme. Mas isso ela devia saber porque era sócia de um navio cruzeiro. Somente no outro dia me ocorreu que talvez ela queria dizer outra coisa.

A única vez (também) que conversei com a segunda Maria foi em uma lanchonete já tarde da noite. Ela, tomando uma caipira de vodca e eu, ar. Como se já me conhecesse, aproximou e perguntou: - “Por que os homens dizem que nós, mulheres, somos todas iguais e eles escolhem tanto? Por que certos homens aparentam serem homens e não são?”.

Pensei responder com argumentos menos agressivos mas, temendo ouvir o que não queria, calei. Nesse meio tempo Maria pegou briga com alguém no celular gritando: - “Você aceita ou não aceita? - Não quer? - Posso ao menos saber por quê?” Irritada, jogou o celular na parede. Era uma vez um celular.

Tempos depois conheci sua filha que foi, por quase uma década, vencedora de diversos concursos de beleza e continuava solteira. Perguntou se eu sabia que sua mãe queria que namorássemos. Surpreso com a revelação, contei-lhe de nosso encontro. Sim! Aquela noite o celular fazia parte do plano. Ela não soube dizer o porquê desse interesse de sua mãe.

Ponto final. Tá registrado.