TE DAR O MUNDO É TIRAR TEU CÉU.
Eu não sei por onde começar.
Talvez pelas terças-feiras.
Aquelas manhãs em que eu já acordava em arrepio só de saber que ia te ver.
Ou pelos domingos à noite, quando o mundo desacelerava só pra caber no teu abraço.
Ou talvez pelo gosto…
da maçã verde misturada com bala de menta.
Do café que ficava no canto da tua boca.
Do beijo que tinha cheiro de confissão.
Você foi o homem que abria a porta do carro como se fosse um portal.
E eu me sentia princesa e perigo ao mesmo tempo.
A casinha na árvore era nossa, mesmo sem ser.
E quando a gente saía dirigindo, sem rumo, sem pressa…
não era sobre chegar,
era sobre estar.
E eu queria tanto te dar o mundo.
Mas aos poucos fui entendendo…
que ao fazer isso, eu podia acabar tirando o céu de você.
Porque o que habita em mim tem brilho e sombra.
E tua alma…
tua alma ainda é simples.
Ainda é limpa.
E deve continuar assim.
Eu nunca me despi inteira diante de você.
Eu tirava tua roupa…
mas a minha armadura sempre ficava.
Ainda assim, por dentro, havia o desejo.
Um desejo tão grande de me entregar por completo,
de me deixar ser.
Ser tua. Ser mulher. Ser inteira.
Mas eu carrego um propósito.
E carregar um propósito é, muitas vezes, escolher perder o que mais se quer…
pra proteger o que mais se admira.
Eu tenho fé.
E seguir a Deus…
às vezes é deixar tudo.
Até quem a gente queria tanto ficar.
E eu espero que um dia você entenda…
que não é sobre mim.
É sobre o que me foi confiado.
Eu quero te ver bem.
Livre.
Leve.
Com a alma viva.
Sem ser tocada pelo que me ronda.
Sem se perder no que te elogia, mas esvazia.
E se um dia você se perguntar por que tudo isso…
só lembra:
tem amores que não cabem na vida.
Mas ficam.
Ficam nas terças.
Ficam nos domingos.
Ficam no gosto da maçã verde, da menta, do café.
Ficam na casinha da árvore.
Ficam nas partes que eu nunca deixei ninguém ver.
Ficam…
no silêncio.