Missas de domingo

Desde que Floriza partiu, algo em mim se desmancha toda vez que me sento no banco da igreja. Não é só a falta dela que me comove — é reencontrá-la ali.

Eu sinto que ela esta sentada ao meu lado, e basta que eu estique os braços para apertar novamente os seus ombros em um abraço novamente. Em cada fiapo de silêncio entre um canto e outro, no tilintar das correntes do terço, no leve aroma de vela que fica, mesmo depois de apagada.

Choro sempre.

E não é um pranto ruidoso, é um choro que escorre para dentro, que sinto na alma, com a reverência de quem percebe que ela não partiu de fato.

Que não a perdi.

Que ela está ali.

Falo com ela. Às vezes em pensamento, outras em sussurros. Digo seu nome baixinho, como quem reza para dentro, como quem recita um evangelho.

E toda missa se torna reencontro, e também despedida. Porque ali, naquele instante em que o padre eleva a hóstia, sinto que ela me olha do fundo das coisas simples. Como se dissesse: a fé é o que nos mantém atravessando o invisível.

Lembro das vezes em que íamos juntos, das festas de santos e das quermesses em que ela parecia menina outra vez, enfeitada de tantos risos.

Ela gostava de tudo: do som da sanfona ao cheiro do milho cozido.

Para ela, fé não era doutrina, era festa. E havia uma doçura convicta em sua crença que me ensinava mais do que qualquer catecismo.

Sinto saudade.

Dela, claro.

Mas também de mim ao lado dela.

Daquele tempo em que tudo era mais simples, talvez porque ela estava perto.

Aos domingos agora não vou apenas à missa, vou novamente ao encontro dela. É onde coloco o que sobrou do tempo — e o que ainda resta de mim.

Onde peço a Deus que lhe conceda o descanso eterno, e também onde agradeço pelo que pudemos viver.

Mozart Sávio
Enviado por Mozart Sávio em 15/04/2025
Código do texto: T8310221
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