Prostituta por uma noite

Agosto de 2013. Fazem doze anos.

Como era de se esperar, eu estava extremamente nervosa. Não tinha experiência alguma, não era profissional.

Houve, claro, todo um preparo: unhas feitas com capricho, cabelos bem cuidados, depilação minuciosa, escolha do traje, maquiagem. Cada marquinha na minha checklist mental, dizia que a hora estava se aproximando e meu corpo respondia ao estímulo, hora com um calafrio percorrendo a espinha, hora com um geladinho na barriga. No extremo oposto, face quente, vermelha. Precisei de um leque, ao estilo das espanholas. Por sorte eu tinha um, ganhei da minha amiga Susimara, que morou na Espanha por um bom tempo. Saudades da Susi!

Obviamente, senti medo. Estaria exposta, vulnerável. E pior, sob olhares curiosos. Não estaríamos completamente à sós.

- “Porque não desistir? Ainda dá tempo!” – eu dizia comigo mesma. “Não senhora! Você vai em frente, garota! Não vai amarelar agora!”

Certo! Vamos lá!

...Não sei se há doze anos havia Uber, acho que só taxi, contudo utilizei o tróleibus. Pertinho de casa há uma parada. Raros são os meios de transportes públicos que oferecem o conforto que a NextMobilidade oferece. Rede Hi-fi, recarregador para celular, ar condicionado, acomodações para cadeirantes... enfim... ninguém quer saber isso, né?!

Cheguei no local acordado.... totalmente desperta!

Enfim, encontrei o Licio e seus amigos.

Minha hora havia chegado.

No colo de Licio Bruno, no papel de Rigoletto, da ópera de Giuseppe Verdi, eu era uma das *prostitutas* no salão do palácio do Duque de Mântua. Primeiro ato, as cortinas do Teatro Municipal se abriram e lá estava eu! Que experiência maravilhosa foi contracenar com esse grande artista! Prêmio Carlos Gomes 2004, medalha cinquentenário ONU 2015, Bacharel em canto, mestre em performance com aperfeiçoamento na Franz Liszt Academy Music, Hungria, professor adjunto na Faculdade de Música do ES, Escola de Música de RFRJ, coordenador de cursos de pós-graduação do Coletivo das Artes... e sabe-se lá o que mais!

Minha formação?

Oficina de teatro. Um ano. Curso gratuito, oferecido pela prefeitura da minha cidade.

Bem afirma o provérbio chinês: “Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”.

Depois disso, tomei parte como corista, da ópera Tosca de Puccini, Candide de Bernstein; Carmen de Bizet; além de outras obras importantes. Aprendi a receber os presentes que me são ofertados com gratidão, com profunda alegria. Com essa atitude comecei a gostar de viver.

Quanto aos profissionais do sexo, sinto profunda dor ao pensar que o ato de extremo prazer pode ser e é comercializável. Riscos à saúde e à segurança. Situação vexatória, abusiva, inimaginável. Já assisti a inúmeros documentários, entrevistas, li artigos e não vi nenhum profissional dizendo gostar, inclusive uma jovem de 14 anos afirmou utilizar psicotrópicos para ajudá-la a esquecer do que acontece. Quatorze anos! Grande parte, se não a maioria, começou na infância. Foi um "presente" da injustiça social.

Correndo o risco de ser pedante, condescendente ou passar por hipócrita, deixo aqui registrado meu solidário respeito e afeto.

Lorena Lira
Enviado por Lorena Lira em 27/03/2025
Reeditado em 02/04/2025
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