Eu queria amá-la.

Eu queria amá-la.

Foi ali, por volta de maio de 2001 — sou apegada a datas — que vi minha mãe debruçada sobre um colchão velho, sem capa. A espuma amarelada sugava suas lágrimas, e eu senti o peso do mundo em mim.

Eu queria protegê-la. Quando, na verdade, deveria ser protegida.

Queria pagar as contas, consertar a pia da cozinha que vazava há dois anos.

Eu queria ser a solução, porque ninguém mais era.

Fui madura antes do tempo.

Fui arrancada do seio e jogada no concreto.

Fui minha própria força, minha própria estrutura.

Fui suficiente para mim mesma quando ainda deveria ser só uma criança.

Fui amiga, fui mãe, fui marido.

E não há beleza nisso.

Fui tudo o que você queria, mãe.

Menos quem eu deveria ser.

E foi tentando me encontrar que percebi que, talvez, eu nunca tenha sido.