As lembranças da fazenda Campo Grande ficaram gravadas nos anéis da memória:
O casarão, o gado espalhado na pastagem, e a aurora chegando no leite mugido
pelo vaqueiro na casinha de curral
A tarde morria nos pálidos braços do ocaso
Aves migratórias voavam alto
Solitária, uma garça riscava o céu com suas asas
Todos os dias ela passava como quem procura,
em vão, seu parceiro
A ave mãe-da-lua piava, assustando a meninada
e a lua despontava, sedutora e bela
Naquela noite, celebravam-se São José dos Vaqueiros
O terreiro da fazenda ficou cheio
Veio gente de muitas partes:
Violeiros e inúmeros vaqueiros da redondeza
Lá também estava Zé Coco do Riachão, tocando a rabeca
que ele mesmo fizera com suas próprias mãos
Emocionada, Corina ouvia ‘Saudade de Mirabela’,
executada pelo próprio compositor
Era momento de inusitada satisfação,
não só para ela, como também para os convidados
Na noite da festa na fazenda
Nem os animais dormiram
E até contribuíram com o arranjo musical:
o galo emprestou seu cocoricó, o peru o glu...glu...glu...
.e o cocar tô franco...tô fraco...
Zé Coco tocou “Lundu Sapateado”, “Todo Mundo” sapateou e dançou,
mas “O Toque do Capeta”, padre Quirino não deixou Zé Coco tocar.
Três vezes o galo cantou
Três vezes Corina nadou em lágrimas de emoção
Três vezes Generoso enxugou o rosto da amada,
com o lenço que ela lhe dera
O cheiro de cravo e canela ficou gravado
na memória olfativa de Corina
E ainda hoje, nas noites de lua clara, o cheiro exala,
tão fortemente, que, embalada pelo manto da saudade,
a viúva do fazendeiro dorme